Alguns gestos fazem do homem a sua constituição de vida e princípios. Alguns gestos, por mais simples que pareçam ser, fazem de uma pessoa aquilo que ela pode ter de melhor. Quando despercebidamente você saca a rolha de uma garrafa de vinho, a sua intenção de imediato talvez seja apenas saborear aquela bebida. Em sua concepção, não importa se é um verdadeiro chatô, ou um simples e popular sangue de boi. Porem, ao notar o líquido escorrendo da garrafa e inundando a sua taça, inúmeros pensamentos escorrem de você transbordando sua vida, repleto de questionamentos, de suposições, medos, inseguranças, decepções e incertezas. Os gestos simplórios do dia-a-dia como um “bom dia” verdadeiro, um “oi” real e sem máscaras, constituem o seu ser. Um abraço recebido por quem ama, ou por uma criança assustada nunca deixará de ser um abraço, contido de segurança, afeto e carinho. Um olhar que atinja a alma, dizendo tudo sem uma única palavra expõem a sua vida, expõem oque você realmente é. As máscaras caem, a busca incessante de provar oque não é, traz ao homem o seu vazio intimo, aquele vazio que só ele e Deus sabem o quanto o intimida. O vazio da hora em que a face toca o travesseiro, o vazio contido nas palavras e nos elogios baratos e falsos vindo dos herdeiros da hipocrisia. O vazio do abraço sem calor, que o homem usa apenas para saciar a carência física como a carência do último cigarro da última carteira. O sorriso surge, a falsa sensação de felicidade toma contra embriagada pela cerveja da moda. Pela roupa da “vitrine” imposta, pela última aquisição cara porem fútil ou pelo balanço do ultimo hite musical midiático e medíocre. O sorriso estampa sua solidão, demonstra o seu vazio, porem frustra seus seguidores, pois, seus gestos falam mais que suas palavras. Suas atitudes expõem sua essência desmontando sua maquiagem revelando quem você realmente é. É a hora em que a taça do vinho é inundada. É o momento da verdade, suas mão tremulas mal sustentam o peso da garrafa, mas você está ali, firme, falso e forte. É a hora em que o homem vende a alma, por míseros 1,99. O momento em que nada do que há de conteúdo dentro de você ou as pessoas acreditam que você tenha ou seja, é jogado no lixo como um cotonete usado. Você até tenta, as vezes até aquela silenciosa lagrima insiste em surgir, e de repente você pode ser tomado por profundidade de valores, sentimentos e sinceridade. Ou simplesmente ser tomado pelo o que há de mais inútil na vida humana, “a vazies”. Mas aí vem a euforia, o sorriso, o riso ou a risada. Sorri é bom, sorrir de tudo é carência. Carência de vida, carência de si, carência de verdades.