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terça-feira, 13 de setembro de 2011
BOIS, PEÕES E NEW HAVE - "Causo"
Os cowboys ainda calçavam botinas, não fumavam mallboro e ainda eram chamados de peões. Os rodeios não tinham estrelas e as festas de peões ainda eram chamadas de montarias. O Brasil passava por um período de transição, a política era tão confusa quanto os cowboys caipiras que não se decidiam entre o new have ou o cigarro de palha. Nossos mazzaropis reuniam-se sagradamente nos finais de semana em pequenas arenas montadas na base do improviso, onde famílias inteiras se reunião para torcer, vibrar e se distrais com os corajosos peões que banhados ao puro sabor da caninha, montavam o lombo de ferozes cavalos ou bois que mantinham a fama de feras selvagens. Animais rudes que atropelavam seus adversários transformando em heróis aqueles bravos que conseguiam doma-los por poucos 8 segundos. A simplicidade era grande e os animais cada vez mais ferozes. Mas um dia apareceu um touro que ninguém sabia sua origem. Este touro era o terror dos boiadeiros. Ninguém sabia de sua estória nunca ninguém ouvira falar como aquele animal conseguiu aparecer naquela região. Muitos haviam tentado domá-lo, peões de quase todo o pais visitavam a fazenda Dois Irmãos localizada próxima ao rio Paranapanema, onde este estranho animal vivia. Mas ninguém conseguia domar a fera. E assim o tempo ia caipiramente caminhando, num desses domingos, quando o povo reunia-se ao redor da pobre arena para mais um domingo de emoções, os comentários já corriam por entre aquele povo, o boi sem coração será montado por um peão que veio de Ouro Fino, um sujeito estranho que quebrava o chapéu na testa e não permitia que ninguém observasse seu rosto, mas isso pouco importava, o que o povo mesmo queria era ver o boi sem coração atropela-lo. Vários outros peões tentaram naquele dia montar o negro boi, mas como sempre, ninguém parou sobre a fera.
Então chegou a hora do misterioso peão, o povo calou, o boi sem coração foi encurralado, e aquele homem que ninguém ainda via seu rosto se aproximou e montou no lombo do bicho. O silencio tomou conta da arena, até mesmo os animais calaram-se para ver e ouvir aquele tão esperado duelo. A porteira se abriu e o bicho entrou na arena, saltou, saltou e saltou, foram aproximadamente 25 minutos cravados, o povo simplesmente estava atônitos, o boi não só pulava como se contorcia, urrava como uma minotauro, chegou o povo a dizer que o boi sem coração chorava. Até que como um cordeirinho o feroz animal ajoelhou permitindo que o misterioso peão descesse cautelosamente do lombo da fera. Ainda de cabeça baixa quebrou ainda mais o chapéu na testa e discretamente desapareceu por entre a multidão. Todos queriam saber quem era aquele audacioso peão mas nenhuma explicação aparecia. Até que ali sentado sobre o morão da porteira que separava a arena do povo um velho peão, hoje indigente explicou o mistério daquela labuta. A muito tempo atrás, ainda no sertão pelas estradas de Minas e Goiás pelos caminhos de Ouro Fino, boiadeiros cruzavam aquele sertão levando e trazendo boiadas, e numa dessas passagens uma criança que morava num ranchinho a beira chão e vivia abrindo as porteiras existentes naquele lugar, foi terrívelmente pisoteada por um estouro da boiada, e o boi que o matou foi este que todos viram ajoelhar na arena e aquele peão, era aquela criança que voltára com a missão de domar a fera e realizar seu grande sonho que era ser chamado de peão boiadeiro. Aquele bravo homem, que nunca mais voltará era o menino da porteira. Ouvindo aquele causo, o povo correu para a arena, para ver o boi, e mais uma vez ficaram surpresos, o boi sem coração também havia desaparecido.
Até hoje este causo corre por entre as vielas dos pensamentos dos peões que fazem de nossa terra uma terra cheia de sonhos e de lindas fantasias.
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