O norte do Paraná ainda se embrenhava por entre as lindas matas virgens naquela época.
Pequenas cidades surgiam enraizando-se à margem das picadas ou dos rios que banham até hoje esta região.
Pessoas ilustres, muitos conhecidos como Coronéis, freqüentavam estas terras na busca de novas conquistas.
E naquele dia, à margem do imponente rio Paranapanema chegava com sua comitiva o Coronel Abelardo. Digo comitiva, pois alem de sua filha ainda criança ele trazia, vários capangas que faziam sua segurança.
O Coronel Abelardo tinha fama de rude, homem severo para com seus comandados e com sua família. Mas quando se tratava de sua filha Beatriz, o homem se tornava doce e amável. Filha única Beatriz herdaria do pai uma das maiores fortunas do sul de São Paulo.
Pra ser exato, eles apiavam no Porto Quebra canoas, que fica nas águas do Paranapanema bem nas limitações da cidade de Assis em terras paulista e o patrimônio do Panema, já em terras paranaense.
O Porto Quebra canoas é uma espécie de ligação alternativa entre os dois estados.
Uma velha balsa fazia a travessia das pessoas, animais e mercadorias.
Ao chegar o coronel Abelardo, com sua arrogância não quis saber se já haviam pessoas esperando a balsa para a travessia. Foi logo informando aos balseiros que ele e sua comitiva seriam os próximos a atravessar. E que se alguém opusesse que falasse com ele.
O povo sempre amedrontado com a fama de carrasco do homem preferia não discutir.
Foi quando um velho balseiro quis informar:
___ Senhor! Permita-me informa-lo, que as águas do paranazão estão muito arredias, e a balsa não pode atravessar.
___ Quem és tu pobre velho, para dizer oque devo, ou oque não devo?
___ Trabalho nesta balsa a 40 anos senhor. E posso afirmar que a travessia com estas águas tão bravas, não é aconselhável
___ Ora! Ora! Como se não bastasse temos aqui um velho encagassado. Tirem este covarde da balsa, nomeio aquele ali para o comando da balsa. – apontou o coronel a um jovem que limpava a velha embarcação.
___ Não posso senhor. O Seu Juca sabe oque está falando. Se ele diz que é perigoso, porque é.
Sentindo-se afrontado, o coroné, arrancou de sua garrucha e obrigou a tripulação a desamarrar a balsa e preparar para a travessia.
O velho Juca vendo que com a pouca experiência da tripulação eles iam ter problemas bem maiores, resolveu assumir a leme e encarar a brava correnteza.
Ao entrar na cabine da velha balsa, o velho Juca começou um ritual que sempre fazia ao dar início ao trabalho. No painel havia uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que o velho tinha como sua protetora. Ao fazer o nome do pai, lá de fora o rude homem gritou.
___Pare com esta besteira velho idiota. Se tem alguém nesta balsa que manda alguma coisa, esta pessoa sou eu. Não vai ser um pedaço de barro que irá dizer oque temos que fazer.
Todos na tripulação arregalaram os olhos, e foram saindo da balsa um por um.
O Coronel esbravejou, empurrou um, chicoteou outro, forçou seus capangas a assumirem o leme da velha balsa.
Sua filha apenas observava as atitudes horríveis do pai. Mas preferia não se envolver, pois já conhecia doque o pai era capaz.
Assim, a velha balsa foi entrando no rio.
Do barranco os pescadores observavam e reprovavam a loucura daquele homem.
A balsa cortava lentamente as águas barrentas do paranazão, a tormenta começou a ficar mais forte. Os ventos empurravam a embarcação rumo a correnteza.
O tempo foi fechando e uma forte chuva começou. A tripulação sem experiência apavorou-se e não sabia oque fazer para manter a balsa no curso.
Sem controle a balsa colidiu contra uma grande pedra e partiu-se ao meio.
Agarrado a velhos pedaços de isopor todos tentavam de sua forma se salvar.
O Coronel aos gritos tentava salvar sua filha. A menina desapareceu por entre aquela confusão de águas e ventos.
Agarrado a uma parte da embarcação que não havia se afundado o coronel observou do outro lado do rio, já em terras paranaense uma senhora de cor negra que conduzia um pequeno bote a remos.
___ Minha senhora. Pelo Amor de Deus salve minha filha. Ela caiu da balsa quando colidimos na pedra. Pelo amor de Deus tente encontra-la. Eu a pago bem.
A velha senhora apontou para o centro do rio e disse:
___ Meu caro senhor! Mergulhe e busque sua filha no fundo do rio.
___ Mas eu não sei nadar. __ respondeu o coronel.
___ Tenha fé. Mergulhe se ainda quer ver sua filha viva.
Não tendo outra opção, o homem se soltou do destroço e afundou.
Aos poucos as águas do paranapanema foram se acalmando.
Da barranca do rio, os pescadores assistiam a tudo sem ter oque fazer.
Por alguns minutos, o coronel ficou submerso, e quando as águas estavam em plena calmaria, surgiu o homem abraçado a sua filha que milagrosamente estava viva.
Puxados até a margem o homem abraçou sua filha demoradamente.
Os pescadores rodearam o homem. Seus capangas tentavam entender o ocorrido, até que o homem ainda comovido perguntou:
___ Cadê aquela senhora que conduzia o bote?
___ Que senhora Coronel? Não tinha ninguém alem de nós.
___Como não! Ela pediu para que eu mergulhasse e salvasse minha filha.
___ Não tinha ninguém lá homem de Deus. Nós vimos tudo.
E vocês só não morreram por milagre.
___ Com certeza! Pensou o velho homem abraçando sua filha.
Com certeza, aquela senhora era Nossa Senhora de Aparecida.
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O COMPADRE, O LOBISOMEM E O PORCO NO ROLETE
A escuridão da noite aos poucos era engolida pelos primeiros raios de sol que surgia por detrás da velha cerca de arame. Dentro do velho casebre a família preparava-se para mais um dia na labuta.
Foi quando uma barulhança danada tomou conta do terreiros.
O galo destampou a cantar, as galinhas cacarejavam sem modéstia, cachorros, cavalos, patos e até o velho gardenal, um gato meio maluco que vivia ali pelo terreiro começou a miar.
Fui abrindo a porta lentamente, pois era início da quaresma, e o comentário de que um lobisomem havia rondado o descampado me assustava.
O brilho do sol já raiava, e ofuscava minha visão. Mas aos pouco pude ver chegando bem de vargarinho o causador de tanta barulhança.
Era o compadre Justino, que morava lá pras bandas de Toledo.
A surpresa foi grande, pois o velho homem há muito tempo não nos visitava.
___ Vai apiando compadre, vai entrando que a casa é sua.
___ Diiiia Compadre Zé! Desculpa pelo horário, é que sai bem cedinho de Todelo, passei a noite no galope e só pude chegar agora.
___ Larga de modisse compadre, vai apiando que a mulher já está preparando o café.
Compadre Justino é um grande amigo. Fomos praticamente criados juntos. Mas o destino nos separou a quase dez anos.
___ Impurra o gardenal pro canto, senta ai compadre, fala logo da família, da vida, das andanças?
___ Pois é compadre! Eu estava meio acabrunhado. O médico disse que acabrunhado agora chama, estresse. E me pediu pra tirar uns dias de folga. Então pensei em vir pra cá passar uns dias. Espero não estar incomodando?
___ Não se aveche, velho amigo. A minha casa será sempre a sua. Vou te levar pra carpiná um café com marmelada que quero ver se esse tal de estresse te larga ou não.
O riso do compadre surgiu derrepente, os causos e as histórias sérias foram surgindo como no passado.
Falamos de família, dos novos costumes do homem moderno. Até que a Zuza, carinhosamente nos alertou para o horário.
Já era hora de ir para a labuta.
Mas confesso, que saí dali com uma curiosidade que me beliscava por dentro.
Entre todos os causos contados pelo Justino, o que mais me deixou intrigado foi a do porco no rolete.
Disse, ele, que lá pras bandas de Toledo, nesta época acontece uma tal de festa do porco no rolete, e que toda a região se movimenta ao redor deste costume.
A minha cabeça ficou tinindo. Quando ele começou a falar, a boca foi logo enchendo d´agua. As lombrigas se assanharam todas.
E decidi que queria comer o tal de porco no rolete.
Naquele dia não trabalhei direito até ouvi a Zuza dizer que eu estava queimem mulher prenha.
Mas podiam até zombar de mim, eu havia decidido a experimentar o danado do porco.
Saí mais cedo da lavoura, arriei o Biruta, meu cavalo e com a companhia do compadre saímos pelas fazendas da região a procura de um bom capado para enrroletá-lo.
Na primeira tentativa não deu certo, os capadinhos estavão muito magrinhos.
Na segunda fazenda, os porcos já estavam vendidos pra uma fábrica de bacon.
Na terceira fazenda, o fazendeiro havia se separado a esposa e os porcos entraram no inventário, e não poderiam ser comercializados até uma posição do Juiz.
Há! A aflição tomou conta de mim. O desespero e a vontade de comer o tal de porco no rolete só me judiava.
Maldita hora que o Justino foi me contar esta novidade. O pior era que ele me acompahava na busca do suíno, e o tempo todo tentava me convencer de que eu não devia ficar tão entusiasmada com o assado.
Mas pra mim já era uma questão de honra comer o tal do porco.
Como eu havia dito, estávamos em plena quaresma, os rumores de que um lobisomem rondava a região aumentava a cada dia.
Eu que já lutei com vários lobisomens em minha vida, não me preocupava muito.
Os dias foram passando, e nada de encontrar um porco no ponto de ser assado.
A quaresma estava chegando ao fim, e as novenas se intensificavam na região.Naquela noite, a reza seria na casa do Nhô Quincas que morava em uma fazenda a muitas léguas dali.
Arrumamos as trouxas, arriei o potro e partimos para o louvor.
O compadre Justino preferiu não ir, disse ele que estava com uma dor de barriga danada.
Tudo bem! Então vamos eu e Zuza.
A reza foi das melhores. Teve até encenação da morte de Jesus Cristo. Lá pras quatro da manhã eu e Zuza resolvemos voltar para casa.
Cruzamos a mata fechada, os cafezais, a lavoura de algodão e quando íamos entrar na ponte do rio Arara que separa o algodaá do descampado, lá estava ele.
Um porção de fazer inveja a qualquer suíno de televisão. O bicho era bonito, grande, rosado, mas parecia um monstro.
___ È o tal do lobisomem homem! Gritou a Zuza.
___ Que lobisomem, que nada mulher! È o danado do porco que eu venho a dias tentando encontrar.
___ Pelo amor de Deus deixa o bicho quieto.
___ Quero ver eu deixar! Lobisomem ou não, ele vai para no rolete.
Esporei o cavalo e parti para cima do porco. De início o bicho resolveu encarar, mas quando ele viu que eu estava decidido a dominá-lo, o bicho resolveu fugir.
Pulei do cavalo como chicote em punho, estalei o rabo de tatu e parti para cima do cachaço.
Parpa daqui, parpa dali, sobe serra, desce rebalo, mas nada de pegar o danado.
Corremos de um lado para o outro quase todo o resto da manhã.
Confesso que eu já estava começando a ficar cansado. Mas aminha vontade era tanta que poderia durar o resto da quaresma, poderia até o porco ser o tal do lobisomem, que eu ia assá-lo, há eu ia.
A essa altura nós dois, eu e o porco entramos no descampado que desemboca na minha pequena casinha.
O danado do porco não sabia mais oque fazer, se ele falasse, com certeza me pediria pelo amor de Deus para deixá-lo em paz.
Correu para trás do galinheiro, passou por cima dos fardos de algodão e mirou a direção da minha casa.
Foi quando observei que a porta estava aberta. Então gritei:
___ Socorre compadre, prepara o tacho com a água fervendo que o porco ta chegando.
O porco não tendo para onde correr, entrou em minha casinha.
___ Aprochegue compadre, fecha a porta que desta vez ele não escapa.
Mas interessante, o compadre não apareceu.
O porco correu e se escondeu detrás do fogão a lenha na cozinha.
Então eu havia encurralado o bico.
Peguei espingarda, fui pé-por-pé, até a entrada do aberto onde o porco estava escondido.
Engatilhei a magrela, firmei o dedo e o pensamento, quando comecei a arrastar o gatilho gritos de pelo amor de Deus surgiram de trás do fogão:
___ Calma homem! Pelo amor de Deus não atira. Sou eu seu compadre.
E não é que era mesmo. O homem estava pelado, todo arranhado, cheio de chicotadas. O compadre era o lobisomem. Por isso que ele defendia tanto os porquinhos.
E mais uma vez eu fiquei sem comer o tal de porco no rolete.
Causo de Gilberto Julia publicado no site de Rolando Boldrim.
Foi quando uma barulhança danada tomou conta do terreiros.
O galo destampou a cantar, as galinhas cacarejavam sem modéstia, cachorros, cavalos, patos e até o velho gardenal, um gato meio maluco que vivia ali pelo terreiro começou a miar.
Fui abrindo a porta lentamente, pois era início da quaresma, e o comentário de que um lobisomem havia rondado o descampado me assustava.
O brilho do sol já raiava, e ofuscava minha visão. Mas aos pouco pude ver chegando bem de vargarinho o causador de tanta barulhança.
Era o compadre Justino, que morava lá pras bandas de Toledo.
A surpresa foi grande, pois o velho homem há muito tempo não nos visitava.
___ Vai apiando compadre, vai entrando que a casa é sua.
___ Diiiia Compadre Zé! Desculpa pelo horário, é que sai bem cedinho de Todelo, passei a noite no galope e só pude chegar agora.
___ Larga de modisse compadre, vai apiando que a mulher já está preparando o café.
Compadre Justino é um grande amigo. Fomos praticamente criados juntos. Mas o destino nos separou a quase dez anos.
___ Impurra o gardenal pro canto, senta ai compadre, fala logo da família, da vida, das andanças?
___ Pois é compadre! Eu estava meio acabrunhado. O médico disse que acabrunhado agora chama, estresse. E me pediu pra tirar uns dias de folga. Então pensei em vir pra cá passar uns dias. Espero não estar incomodando?
___ Não se aveche, velho amigo. A minha casa será sempre a sua. Vou te levar pra carpiná um café com marmelada que quero ver se esse tal de estresse te larga ou não.
O riso do compadre surgiu derrepente, os causos e as histórias sérias foram surgindo como no passado.
Falamos de família, dos novos costumes do homem moderno. Até que a Zuza, carinhosamente nos alertou para o horário.
Já era hora de ir para a labuta.
Mas confesso, que saí dali com uma curiosidade que me beliscava por dentro.
Entre todos os causos contados pelo Justino, o que mais me deixou intrigado foi a do porco no rolete.
Disse, ele, que lá pras bandas de Toledo, nesta época acontece uma tal de festa do porco no rolete, e que toda a região se movimenta ao redor deste costume.
A minha cabeça ficou tinindo. Quando ele começou a falar, a boca foi logo enchendo d´agua. As lombrigas se assanharam todas.
E decidi que queria comer o tal de porco no rolete.
Naquele dia não trabalhei direito até ouvi a Zuza dizer que eu estava queimem mulher prenha.
Mas podiam até zombar de mim, eu havia decidido a experimentar o danado do porco.
Saí mais cedo da lavoura, arriei o Biruta, meu cavalo e com a companhia do compadre saímos pelas fazendas da região a procura de um bom capado para enrroletá-lo.
Na primeira tentativa não deu certo, os capadinhos estavão muito magrinhos.
Na segunda fazenda, os porcos já estavam vendidos pra uma fábrica de bacon.
Na terceira fazenda, o fazendeiro havia se separado a esposa e os porcos entraram no inventário, e não poderiam ser comercializados até uma posição do Juiz.
Há! A aflição tomou conta de mim. O desespero e a vontade de comer o tal de porco no rolete só me judiava.
Maldita hora que o Justino foi me contar esta novidade. O pior era que ele me acompahava na busca do suíno, e o tempo todo tentava me convencer de que eu não devia ficar tão entusiasmada com o assado.
Mas pra mim já era uma questão de honra comer o tal do porco.
Como eu havia dito, estávamos em plena quaresma, os rumores de que um lobisomem rondava a região aumentava a cada dia.
Eu que já lutei com vários lobisomens em minha vida, não me preocupava muito.
Os dias foram passando, e nada de encontrar um porco no ponto de ser assado.
A quaresma estava chegando ao fim, e as novenas se intensificavam na região.Naquela noite, a reza seria na casa do Nhô Quincas que morava em uma fazenda a muitas léguas dali.
Arrumamos as trouxas, arriei o potro e partimos para o louvor.
O compadre Justino preferiu não ir, disse ele que estava com uma dor de barriga danada.
Tudo bem! Então vamos eu e Zuza.
A reza foi das melhores. Teve até encenação da morte de Jesus Cristo. Lá pras quatro da manhã eu e Zuza resolvemos voltar para casa.
Cruzamos a mata fechada, os cafezais, a lavoura de algodão e quando íamos entrar na ponte do rio Arara que separa o algodaá do descampado, lá estava ele.
Um porção de fazer inveja a qualquer suíno de televisão. O bicho era bonito, grande, rosado, mas parecia um monstro.
___ È o tal do lobisomem homem! Gritou a Zuza.
___ Que lobisomem, que nada mulher! È o danado do porco que eu venho a dias tentando encontrar.
___ Pelo amor de Deus deixa o bicho quieto.
___ Quero ver eu deixar! Lobisomem ou não, ele vai para no rolete.
Esporei o cavalo e parti para cima do porco. De início o bicho resolveu encarar, mas quando ele viu que eu estava decidido a dominá-lo, o bicho resolveu fugir.
Pulei do cavalo como chicote em punho, estalei o rabo de tatu e parti para cima do cachaço.
Parpa daqui, parpa dali, sobe serra, desce rebalo, mas nada de pegar o danado.
Corremos de um lado para o outro quase todo o resto da manhã.
Confesso que eu já estava começando a ficar cansado. Mas aminha vontade era tanta que poderia durar o resto da quaresma, poderia até o porco ser o tal do lobisomem, que eu ia assá-lo, há eu ia.
A essa altura nós dois, eu e o porco entramos no descampado que desemboca na minha pequena casinha.
O danado do porco não sabia mais oque fazer, se ele falasse, com certeza me pediria pelo amor de Deus para deixá-lo em paz.
Correu para trás do galinheiro, passou por cima dos fardos de algodão e mirou a direção da minha casa.
Foi quando observei que a porta estava aberta. Então gritei:
___ Socorre compadre, prepara o tacho com a água fervendo que o porco ta chegando.
O porco não tendo para onde correr, entrou em minha casinha.
___ Aprochegue compadre, fecha a porta que desta vez ele não escapa.
Mas interessante, o compadre não apareceu.
O porco correu e se escondeu detrás do fogão a lenha na cozinha.
Então eu havia encurralado o bico.
Peguei espingarda, fui pé-por-pé, até a entrada do aberto onde o porco estava escondido.
Engatilhei a magrela, firmei o dedo e o pensamento, quando comecei a arrastar o gatilho gritos de pelo amor de Deus surgiram de trás do fogão:
___ Calma homem! Pelo amor de Deus não atira. Sou eu seu compadre.
E não é que era mesmo. O homem estava pelado, todo arranhado, cheio de chicotadas. O compadre era o lobisomem. Por isso que ele defendia tanto os porquinhos.
E mais uma vez eu fiquei sem comer o tal de porco no rolete.
Causo de Gilberto Julia publicado no site de Rolando Boldrim.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
NÃO BÓLI CÁ MULA QUINZIM
Quincas nasceu Arquimedes Araújo,
mas por sua simplicidade entre os seus amigos, tornou-se o Quinzim. Apiou de
seu cavalo branco impecavelmente arriado em uma fazendo de café no norte do
Paraná, Fazenda Dois Irmãos de uma família libanesa. Na época o forte era a
colheita de café e a colônia estava tomada por afamilias que se aglomeravam
naquela batalha rural.
Quincas
não exitou, ao ver a quantidade de morenas lindas no local resolveu pedir
serviço na fazenda.
Cansado
de andanças resolveu quietar queria uma vida calma, sem tantas aventuras como
havia vivido até aquele momento.
Na
fazenda havia dezenas de famílias que moravam em suas casas de madeira próximas
umas as outras formando as grandes colônias típicas na região.
Quincas
logo foi se enturmando e logo conheceu Catarina, a jovem era bela, a mais bela
que o homem havia conhecido em suas aventuras. E pela primeira vez Quincas
resolveu namorar e desta vez sério, muito sério.
O
problema, era que Catarina morava em uma outra colônia, pertencente a uma outra
fazenda que ficava a dezenas de quilômetros dali.
Mas
sua beleza encantou Quincas que toda sexta-feira, arriava seu cavalo e
cavalgava por horas para encontrar a bela Catarina.
No
caminho, Quincas cruzava pontes, passava por vales, matas sombrias, mas nada o
impedia.
O
Problema surgiu naquela quaresma. Período em que aquela gente acreditava que
uma terrível mula sem cabeça, andava pelas noites do sertão aterrorizando
todos.
O
povo daquela região comentava o tempo todo sobre as atrocidades causadas pela
terrível mula.
Mas
para Quincas o amor por Catarina valia o risco de ter que enfrentar a fúria da
besta.
E
assim aconteceu, voltando da fazenda em que morava Catarina, ao cruzar a ponte
do rio, o susto, lá estava a mula, grande, peluda, horrível.
E
o bicho partiu para cima de Quincas. No início até que o homem pensou em
enfrentar a fera, mas quanto mais a mula surgia mais o medo crescia, e
aplicando uma forte esporada em seu alasão, rumou-se estrada a fora em busca de
sua casa.
O
cavalo corria, e em seu encalce a fera.
Quilômetros
foram percorridos até que ao entrar em seu quintal, a fera uivou e desapareceu.
No
dia seguinte, Quincas não se abalou pois a beleza de Catarina o esperava.
O
problema era a volta.
E
mais uma vez o corre-corre. Desta vez a mula surgiu ainda mais feroz, até
parecia que o problema da fera era mesmo o pobre Quincas.
Mais
uma correria. E ao entrar em seu quintal a mula desapareceu.
Quincas
não sabia mais oque fazer, seu amor por Catarina era grande, a beleza da morena
o impressionava, mas a perseguição daquele bicho o estava cansando.
Num
domingo após a missa na capela, Quincas resolveu ir pra casa mais cedo, estava
cansado e naquela noite não queria apostar corrida com nenhum bicho.
Despediu-se
de Catarina e partiu. Mas de nada adiantou, ao cruzar a ponte, lá estava a
coisa.
Ao
avistar o bicho, seu cavalo assustou-se, empinou e o jogou ao chão.
Ao
levantar, viu que seu cavalo não estava mais ali.
Ao
cata-cavaco, começou a correr, e em seu encalce, a estranha mula.
Corre
daqui, corre daí até que o amedrontado homem chegou todo esfarrapado ao seu
terreiro.
E
o bicho desapareceu.
Quincas
não aguentava mais. Estava louco por Catarina, mas via que a qualquer momento
ia ser pego pelo bicho.
No
outro dia, na lavoura de café, Quincas conheceu Sebastiana, uma benzedeira da
região.
Mulher
estranha, cheia de mistérios.
___
Quinzim! Sei de sua peleja com a mula.
___
Como sabes? Se nunca contei a minguem.
___
Só saiba que sei. Mas vou lhe dizer. Nenhum bicho deste, entra no terreiro
alheio.
A
não ser que seja convidada. Ofereça-lhe sal.
___
Como assim? Assustado perguntou o pobre.
___
Em sua fuga, no ponto em que separa o descampado da lavoura com o seu terreiro,
você deve parar, fitar os olhos da besta-fera, e convidá-la a vir até a sua
casa buscar sal. E na manhã seguinte a pessoa que se transforma neste bicho
baterá em sua porta pedindo sal emprestado.
Quincas
não quis acreditar, mas era melhor não abusar.
E
assim aconteceu.
Naquela
noite, ao voltar da casa de sua amada, a mula o interceptou antes da ponte.
E
como de costume a correria.
Quincas
estava com muito medo, mas resolveu fazer oque a benzedeira havia dito.
Ao
cruzar a linha imaginária que separava o seu terreiro do descampando, ainda
tremulo o homem parou virou-se e encarou fera.
A
olhou nos olhos, tremulo e já todo molhado disse:
___
Se és tão corajosa sua coisa estranha, venha amanhã bem cedinho em minha casa
buscar um pouco de sal.
A
mula arranhou o chão, relinchou uivou e desapareceu.
Naquela
noite, Quincas não dormiu. Cruzou a noite sentado sobre o fogão a lenha até o
sol surgir por entre os cafezais.
Foi
quando três toques soaram contra sua porta.
Quincas,
meio tremulo lentamente abriu a porta.
E
a surpresa estava alí.
___
O senhor tem um pouquinho de sal para me emprestar?
Pediu-lhe
suavemente a bela Catarina.
FIM.
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