Leitores

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

NÃO BÓLI CÁ MULA QUINZIM


Quincas nasceu Arquimedes Araújo, mas por sua simplicidade entre os seus amigos, tornou-se o Quinzim. Apiou de seu cavalo branco impecavelmente arriado em uma fazendo de café no norte do Paraná, Fazenda Dois Irmãos de uma família libanesa. Na época o forte era a colheita de café e a colônia estava tomada por afamilias que se aglomeravam naquela batalha rural.
Quincas não exitou, ao ver a quantidade de morenas lindas no local resolveu pedir serviço na fazenda.
Cansado de andanças resolveu quietar queria uma vida calma, sem tantas aventuras como havia vivido até aquele momento.
Na fazenda havia dezenas de famílias que moravam em suas casas de madeira próximas umas as outras formando as grandes colônias típicas na região.
Quincas logo foi se enturmando e logo conheceu Catarina, a jovem era bela, a mais bela que o homem havia conhecido em suas aventuras. E pela primeira vez Quincas resolveu namorar e desta vez sério, muito sério.
O problema, era que Catarina morava em uma outra colônia, pertencente a uma outra fazenda que ficava a dezenas de quilômetros dali.
Mas sua beleza encantou Quincas que toda sexta-feira, arriava seu cavalo e cavalgava por horas para encontrar a bela Catarina.
No caminho, Quincas cruzava pontes, passava por vales, matas sombrias, mas nada o impedia.
O Problema surgiu naquela quaresma. Período em que aquela gente acreditava que uma terrível mula sem cabeça, andava pelas noites do sertão aterrorizando todos.
O povo daquela região comentava o tempo todo sobre as atrocidades causadas pela terrível mula.
Mas para Quincas o amor por Catarina valia o risco de ter que enfrentar a fúria da besta.
E assim aconteceu, voltando da fazenda em que morava Catarina, ao cruzar a ponte do rio, o susto, lá estava a mula, grande, peluda, horrível.
E o bicho partiu para cima de Quincas. No início até que o homem pensou em enfrentar a fera, mas quanto mais a mula surgia mais o medo crescia, e aplicando uma forte esporada em seu alasão, rumou-se estrada a fora em busca de sua casa.
O cavalo corria, e em seu encalce a fera.
Quilômetros foram percorridos até que ao entrar em seu quintal, a fera uivou e desapareceu.
No dia seguinte, Quincas não se abalou pois a beleza de Catarina o esperava.
O problema era a volta.
E mais uma vez o corre-corre. Desta vez a mula surgiu ainda mais feroz, até parecia que o problema da fera era mesmo o pobre Quincas.
Mais uma correria. E ao entrar em seu quintal a mula desapareceu.
Quincas não sabia mais oque fazer, seu amor por Catarina era grande, a beleza da morena o impressionava, mas a perseguição daquele bicho o estava cansando.
Num domingo após a missa na capela, Quincas resolveu ir pra casa mais cedo, estava cansado e naquela noite não queria apostar corrida com nenhum bicho.
Despediu-se de Catarina e partiu. Mas de nada adiantou, ao cruzar a ponte, lá estava a coisa.
Ao avistar o bicho, seu cavalo assustou-se, empinou e o jogou ao chão.
Ao levantar, viu que seu cavalo não estava mais ali.
Ao cata-cavaco, começou a correr, e em seu encalce, a estranha mula.
Corre daqui, corre daí até que o amedrontado homem chegou todo esfarrapado ao seu terreiro.
E o bicho desapareceu.
Quincas não aguentava mais. Estava louco por Catarina, mas via que a qualquer momento ia ser pego pelo bicho.
No outro dia, na lavoura de café, Quincas conheceu Sebastiana, uma benzedeira da região.
Mulher estranha, cheia de mistérios.
___ Quinzim! Sei de sua peleja com a mula.
___ Como sabes? Se nunca contei a minguem.
___ Só saiba que sei. Mas vou lhe dizer. Nenhum bicho deste, entra no terreiro alheio.
A não ser que seja convidada. Ofereça-lhe sal.
___ Como assim? Assustado perguntou o pobre.
___ Em sua fuga, no ponto em que separa o descampado da lavoura com o seu terreiro, você deve parar, fitar os olhos da besta-fera, e convidá-la a vir até a sua casa buscar sal. E na manhã seguinte a pessoa que se transforma neste bicho baterá em sua porta pedindo sal emprestado.
Quincas não quis acreditar, mas era melhor não abusar.
E assim aconteceu.
Naquela noite, ao voltar da casa de sua amada, a mula o interceptou antes da ponte.
E como de costume a correria.
Quincas estava com muito medo, mas resolveu fazer oque a benzedeira havia dito.
Ao cruzar a linha imaginária que separava o seu terreiro do descampando, ainda tremulo o homem parou virou-se e encarou fera.
A olhou nos olhos, tremulo e já todo molhado disse:
___ Se és tão corajosa sua coisa estranha, venha amanhã bem cedinho em minha casa buscar um pouco de sal.
A mula arranhou o chão, relinchou uivou e desapareceu.
Naquela noite, Quincas não dormiu. Cruzou a noite sentado sobre o fogão a lenha até o sol surgir por entre os cafezais.
Foi quando três toques soaram contra sua porta.
Quincas, meio tremulo lentamente abriu a porta.
E a surpresa estava alí.
___ O senhor tem um pouquinho de sal para me emprestar?
Pediu-lhe suavemente a bela Catarina.
FIM.

Um comentário:

Thiago disse...

Grande Giba!

Legal o Blog!

Sucesso!

Abraços

Minha foto
Londrina, Norte, Brazil
Ler, eis a diferença.