O norte do Paraná ainda se embrenhava por entre as lindas matas virgens naquela época.
Pequenas cidades surgiam enraizando-se à margem das picadas ou dos rios que banham até hoje esta região.
Pessoas ilustres, muitos conhecidos como Coronéis, freqüentavam estas terras na busca de novas conquistas.
E naquele dia, à margem do imponente rio Paranapanema chegava com sua comitiva o Coronel Abelardo. Digo comitiva, pois alem de sua filha ainda criança ele trazia, vários capangas que faziam sua segurança.
O Coronel Abelardo tinha fama de rude, homem severo para com seus comandados e com sua família. Mas quando se tratava de sua filha Beatriz, o homem se tornava doce e amável. Filha única Beatriz herdaria do pai uma das maiores fortunas do sul de São Paulo.
Pra ser exato, eles apiavam no Porto Quebra canoas, que fica nas águas do Paranapanema bem nas limitações da cidade de Assis em terras paulista e o patrimônio do Panema, já em terras paranaense.
O Porto Quebra canoas é uma espécie de ligação alternativa entre os dois estados.
Uma velha balsa fazia a travessia das pessoas, animais e mercadorias.
Ao chegar o coronel Abelardo, com sua arrogância não quis saber se já haviam pessoas esperando a balsa para a travessia. Foi logo informando aos balseiros que ele e sua comitiva seriam os próximos a atravessar. E que se alguém opusesse que falasse com ele.
O povo sempre amedrontado com a fama de carrasco do homem preferia não discutir.
Foi quando um velho balseiro quis informar:
___ Senhor! Permita-me informa-lo, que as águas do paranazão estão muito arredias, e a balsa não pode atravessar.
___ Quem és tu pobre velho, para dizer oque devo, ou oque não devo?
___ Trabalho nesta balsa a 40 anos senhor. E posso afirmar que a travessia com estas águas tão bravas, não é aconselhável
___ Ora! Ora! Como se não bastasse temos aqui um velho encagassado. Tirem este covarde da balsa, nomeio aquele ali para o comando da balsa. – apontou o coronel a um jovem que limpava a velha embarcação.
___ Não posso senhor. O Seu Juca sabe oque está falando. Se ele diz que é perigoso, porque é.
Sentindo-se afrontado, o coroné, arrancou de sua garrucha e obrigou a tripulação a desamarrar a balsa e preparar para a travessia.
O velho Juca vendo que com a pouca experiência da tripulação eles iam ter problemas bem maiores, resolveu assumir a leme e encarar a brava correnteza.
Ao entrar na cabine da velha balsa, o velho Juca começou um ritual que sempre fazia ao dar início ao trabalho. No painel havia uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que o velho tinha como sua protetora. Ao fazer o nome do pai, lá de fora o rude homem gritou.
___Pare com esta besteira velho idiota. Se tem alguém nesta balsa que manda alguma coisa, esta pessoa sou eu. Não vai ser um pedaço de barro que irá dizer oque temos que fazer.
Todos na tripulação arregalaram os olhos, e foram saindo da balsa um por um.
O Coronel esbravejou, empurrou um, chicoteou outro, forçou seus capangas a assumirem o leme da velha balsa.
Sua filha apenas observava as atitudes horríveis do pai. Mas preferia não se envolver, pois já conhecia doque o pai era capaz.
Assim, a velha balsa foi entrando no rio.
Do barranco os pescadores observavam e reprovavam a loucura daquele homem.
A balsa cortava lentamente as águas barrentas do paranazão, a tormenta começou a ficar mais forte. Os ventos empurravam a embarcação rumo a correnteza.
O tempo foi fechando e uma forte chuva começou. A tripulação sem experiência apavorou-se e não sabia oque fazer para manter a balsa no curso.
Sem controle a balsa colidiu contra uma grande pedra e partiu-se ao meio.
Agarrado a velhos pedaços de isopor todos tentavam de sua forma se salvar.
O Coronel aos gritos tentava salvar sua filha. A menina desapareceu por entre aquela confusão de águas e ventos.
Agarrado a uma parte da embarcação que não havia se afundado o coronel observou do outro lado do rio, já em terras paranaense uma senhora de cor negra que conduzia um pequeno bote a remos.
___ Minha senhora. Pelo Amor de Deus salve minha filha. Ela caiu da balsa quando colidimos na pedra. Pelo amor de Deus tente encontra-la. Eu a pago bem.
A velha senhora apontou para o centro do rio e disse:
___ Meu caro senhor! Mergulhe e busque sua filha no fundo do rio.
___ Mas eu não sei nadar. __ respondeu o coronel.
___ Tenha fé. Mergulhe se ainda quer ver sua filha viva.
Não tendo outra opção, o homem se soltou do destroço e afundou.
Aos poucos as águas do paranapanema foram se acalmando.
Da barranca do rio, os pescadores assistiam a tudo sem ter oque fazer.
Por alguns minutos, o coronel ficou submerso, e quando as águas estavam em plena calmaria, surgiu o homem abraçado a sua filha que milagrosamente estava viva.
Puxados até a margem o homem abraçou sua filha demoradamente.
Os pescadores rodearam o homem. Seus capangas tentavam entender o ocorrido, até que o homem ainda comovido perguntou:
___ Cadê aquela senhora que conduzia o bote?
___ Que senhora Coronel? Não tinha ninguém alem de nós.
___Como não! Ela pediu para que eu mergulhasse e salvasse minha filha.
___ Não tinha ninguém lá homem de Deus. Nós vimos tudo.
E vocês só não morreram por milagre.
___ Com certeza! Pensou o velho homem abraçando sua filha.
Com certeza, aquela senhora era Nossa Senhora de Aparecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário