Há! Esse tal de Genorão, Na verdade era Agenor Pereira dos Santos, um típico boiadeiro mineiro que vivia pelas andanças do sertão brasileiro levando e trazendo boiadas.
Numa dessas fantásticas cruzadas, Genorão acabara de levar quase 2000 bois de Minas ao Paraná. Havia entregue dedicadamente boi por boi. Dispensou sua comitiva que voltou para Minas e resolveu dar um bodeijo pelas terras paranaenses. E foi ali, onde hoje é a BR 369 que liga Londrina à Ourinhos no Estado de São Paulo. Um pequeno povoado se firmava a mata ainda era virgem a atual BR era apenas uma confusa picada no meio da mata. Mas onde é hoje o KM 95 havia algumas casas uma espécie de colônia de lavradores que lidavam na lavoura de café. E como não poderia faltar havia uma casa de diversão, na época chamada de zona, ou zonão. E foi ali que Genorão viveu uma de suas mais inexplicáveis histórias.
Adentrou a vila com seu imponente cavalo branco, parecia um herói de filmes americanos. Parou diante a zona, quebrou seu chapéu na testa, fez pose de quem queria dizer, “ cheguei”.
Logo veio uma linda morena, cabelos longos e lisos, corpo escultural distribuído dentro de um longo vestido. Longo porem abusado nos decote e na abertura lateral.
Genorão não se fez de rogado foi logo abraçando a morena e partindo para os beijos e abraços.
Os carinhos foram regados pela mais pura cachaça daquela região.
A festa no ambiente entrou noite a fora. E quando Genorão se deu por fé estava no quarto, já pronto para mais uma de suas milhares de aventuras. Foi quando lembrou que por uma questão de respeito a Nossa Senhora Aparecida não fazia maior com o seu cordão de prata que trazia como pingente um a imagem da Santa. Interrompeu por segundos o desejo, retirou a cordão e delicadamente o pendurou sobre a guarda da cama. E assim Genorão e a linda morena cruzaram a noite entre carinho e altas gargalhadas.
Enfim o dia amanheceu, Genorão pagou a moça, vestiu sua capa, quebrou o chapéu na testa, montou seu alazão e partiu mata a fora. Ao cruzar a pequena ponte do rio Macuco ainda existente no local, lembrou-se de seu cordão com a imagem da Santa. Genorão poderia perder tudo nesta vida, menos aquele cordão, acreditava ele que a imagem o protegia do mal.
Aos galopes retornou ao povoado, cruzou a rua central e meio confuso não encontrava o prostibulo. Foi e voltou várias vezes mas não localizava a casa. Lembrou-se que a casa ficava entre uma venda e uma selaria. Observou por vários minutos, a venda estava ali, a selaria também, mas entre uma e outra havia apenas um terreno baldio, coberto de capim colonhão e alguns pés de mamona.
___Não! Eu não estou ficando louco, tenho certeza que era aqui. – Indagou Genorão.
Caçou a barba, tirou e colocou várias vezes o chapel. Rodeou de novo o local e não agüentou.
Ao observar uma beata que por ali passava, tentou perguntar se estava no lugar errado, se ali não havia uma casa amarela com fitas pregadas na porta.
A beata nem deu atenção, continuou andando, ignorando o peão.
Em seguida veio um senhor de cabeça baixa. Então foi a pergunta.
___ Moço! Me diga que não estou louco. Cadê aquela casa amarela que ficava aqui, exatamente aqui neste lugar.
___ O senhor não deve ser daqui, não é não?
___ Sou de Minas Gerais, mas não enrola. Cadê a casa daqui?
___Carma seu moço. Não quis perturbar. Mas se o senhor não sabe vou contar. Ai era uma zona muito famosa, mas já faz dez anos que houve um incêndio, um fogo horrível, e as meninas morreram todas queimadas.
___ Larga de mentiras seu bêbado caduco. – Bravejou Genorão.
___ Se quiser acreditar, acredite, se não quiser, nem te ligo. Saindo de cabeça baixa o velho homem.
Genorão ficou confuso. Como poderia essa estória ser verdade, se na noite passada, ali naquele mesmo lugar havia passado uma bela noite.
Mesmo assim, apiou do cavalo, abriu o capim colonhão, e lentamente foi adentrando o mato. Alguns pés de mamona invadiam o local, resíduos de carvão, pedaços de mobílias queimadas, um cenário horrível.
E foi ali, exatamente ali que Genorão teve a maior surpresa de sua vida.
Pendurado em um galho de um pé de mamona o seu cordão com a imagem da santa.
Exatamente como ele havia deixado.
Original do curta "Genorão" da RPC/Globo 2008.
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