Desde que passamos a ver o mundo com a nudez dos olhos humanos, somos programados pra viver em sociedade, somos provocados a decidir nossas escolhas....por entre os amigos ainda criança, um par ou ímpar? Uma pera, uva, ou maçã? A Madona ou o Michael? Até que em pouco tempo a inocência se esvazia, e as escolhas surgem de forma mais intensa e desafiadoras. Medicina? Ou Direito? Um carro? Ou uma moto? Pagar primeiro, a conta de água? Ou a de luz? A vida se apresenta como num teste de escolhas múltiplas, mesmo sabendo que ao escolhermos o azul, temos que abrir mão do amarelo. Assim, somos nós. Até que de repente, uma sensação estanha e inexplicável, surge em nossas vidas frustrando todo o conceito da escolha certa..... O amor! Criamos perspectivas, projetamos sonhos e idealizamos um perfil. Até que um ser desconhecido, que entrega panfletos no sinal, distante de ser a pessoa dos sonhos, e até então idealizada, não te da a mínima chance de escolha, se quer permite, um par ou ímpar, um cara ou coroa. E lá se foi toda a sua idealização, seus conceitos, ideologias e sentimentos. A pessoa do sinal arranca de ti emoções até então desconhecidas, profundas, inesperadas. E o pior.... sem te dar a chance do bíblico livre arbítrio. E pela primeira vez desde a escolha entre o parto natural e a cesárea, você não sabe como decidir. Sua razão te manda ao sul, e suas emoções ao norte. Mas sem direitos, sem escolhas, como num AI5 Celestial. E ali, no confuso e emaranhado do cruzamento da vida, com as dúvidas em amarelo, como a família, história, posses e lógica. O vermelho, reina absoluto, impondo seus caminhos e seu destinos. Não importa seus desejos, suas vontades, oque importa é o sorriso na foto, a maquiagem que camufla seus traços reais de alguém que chora, que sente saudade, que se desespera. Para o vermelho dos bons costumes o importante, é você ser referencia, como a esposa ou marido, mãe ou pai, filha ou filho. Oque deve te fazer feliz, são as viagens, as academias, o carro importado, a conta no banco, o vazio tecnológico de última geração. O status social por entre os seus, enquanto que em sua intimidade avermelhada, a busca desesperada de paz, alívio e prazer, tornam-se vazios, pequenos, midiáticos e as vezes humilhantes e sujos. Mas o verde da paixão, do afago, da palavra com carinho, do abraço real e protetor insiste em te fazer seguir. Seguir rumo a um mundo cheio de calor e arrepios, abraços, partidas e retornos, sem códigos de barras ou etiquetas. Um mundo de saudades, de ansiedade, de medos e de sonhos. Um mundo de pequenos gestos, como uma frase escrita em um lugar qualquer por um transeunte e seu cão, uma chave perdida, um impresso no vidro do carro, uma flor, uma frase de amor. Porem, o vermelho da vida travestido de valores e razões impostas, o confunde diante sua própria existência. E a vida segue assim. Colocando-nos diante nossas escolhas. Nossos caminhos e nossas razões. Nem sempre escolhemos conforme desejamos. Mas escolhemos conforme alguém deseja. Como deseja o pai. Como deseja a mãe, como desejam, os filhos, amigos e a mídia. Mas nem sempre, como deseja a alma.
Leitores
domingo, 9 de dezembro de 2018
domingo, 4 de novembro de 2018
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
MEU JEITO DE TER FÉ
Ontem fui a missa.....
Fui trocar uma ideia com Eles.
Ela me puxou a orelha, me falou horrores.
Ele estava arredio, invocado! Que bronca!
Ouvi coisas nada Divinas.
Mas Eles podem!.
São meus Pais.
Eu os amo. E nada me afastaria Deles.
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
OLHOS TEUS
As lentas e longas horas do tempo, trarão pela janela de seus incomuns olhos quando abertos ao acordar, seus primeiros pensamentos. E estes pensamentos não conseguirão fugir do óbvio, "detalhes". Chegará o dia, em que ao pegar seu telefone, verificará, os contatos, na busca daquele “bom dia”. Não se conterá de ansiedade olhando para o feito de Granbell,na busca de um simples "Oi". Inúmeros contatos digladiarão por sua atenção. Palavras decoradas e ensaiadas lhe compararam a Deusas, mas nada, nem ninguém te fará "entender-se". Seus sentidos buscarão um perfume, um cheiro, o gosto de um beijo, a profundidade de um olhar real.Se esforçará para negar oque sente, e assim, Chegará o dia em que o conforto e o acolhimento daquele abraço, será mais importante pra você, do que qualquer outra etiqueta mad in Paco Rabanne. Pois, haverá o dia em que você entenderá o verdadeiro sentido do gostar. Aquele gostar que inspira, que sufoca, que conduz às profundezas da alma. No silêncio do quarto com a cabeça no travesseiro, onde só você, a escuridão, e as lágrimas servirão de testemunhas. Neste momento você vai entender, descobrir, para nunca mais ter dúvidas, do que realmente é capaz um coração disposto a gostar. Ao notar seu travesseiro molhado, o suspiro profundo, e por um nome chamar, sorrirá, pois, acabou de descobrir o amor. Acabou de entender o gostar.
domingo, 19 de agosto de 2018
PERFUME
Lá esta o frasco bonito.
Do perfume da moda.
Do verão passado com um restinho no fundo.
Jogar! Nem pensar. O frasco é lindo.
Le nom est français. Le parfum ramène des souvenirs.
Mas o verão passou.
E do perfume da moda, o vazio, o restinho,
... oque sobrou.
...tomado por pena, numa prateleira, no cantinho
ao lado esperando o momento,
esperando calado.
...tomado por pena, numa prateleira, no cantinho
ao lado esperando o momento,
esperando calado.
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
EU, UM CATÓLICO ENTRISTECIDO
Era da cor laranja a capa do meu catecismo. Lembro como se fosse hoje. Por entre suas paginas, um conteúdo simples, mas de profundidade cristã inesquecível. Os encontros que reuniam dezenas moleques da roça, se Cristianiavam desde um Pai Nosso com palavras engolidas, até uma olhada rápida a beleza simples da catequista. Em casa, as imagens santíssimas, vindas de todas as partes, ilustravam a vida e as paredes do velho casebre de madeira.
A fé fervorosa de minha mãe, percorria de Nossa Senhora Aparecida ao Menino da Tábua, um jovem em quem todos apregoavam milagres no interior paulista nos idos dos anos oitenta.
Assim,
vi a minha adolescência chegar.
Minha referencia maior, vestia um hábito branco e
se chama Marina. Freira, Dominicana,
embora tivesse tudo pra ser Franciscana.
Minha
irmã sonhava desde menina, estar por entre os pobres, estender as mãos e afagar
aquele moribundo em busca da palavra de Deus.
Logo
me tornei coroinha, de batina branca e tudo!
Vivi com o Padre Valeriano, Padre Joãozinho e com a inesquecível irmã Hildegard Jacoby. Sim!
Aquela irmã do perrengue na África.
E um dos momentos que mais aprendi a ser
cristão foi ao lado dela, e hoje, muito doque sei com um bom samaritano devo aquela santa irmã.
A
maior idade chegou, os sonhos se
tornaram projetos, os olhares tendenciosos para a catequista tornou-se namoro. Veio o Exército, as andanças, o real, nu e cru como ele é. Mas
a minha base cristã, cheia de fé e de um acreditar inabalável me fez sobreviver
longe do ninho e diante tantas dificuldades.
Orgulho-me
de minha fé Cristã, e orgulho-me de ser um Católico Apostólico Romano.
E
acho que o fato de não abrir mão da minha religião, e pelo fato de ter colocado
a minha fé e a minha vida a disposição
de um principio norteador da herança de Cristo, hoje me sinto com o direito de me
sentir tão triste, angustiado, próximo a decepção.
Não
entendo, como os nossos líderes religiosos tem permitido tanta incoerência por
entre nossos pastores como nos últimos tempos.
Não
consigo entender como as autoridades religiosas consideradas sérias, são tão
coniventes ao esdrúxulo ato do quanto pior melhor dentro de nossa fé.
E olha
que hoje estou falando apenas do que chamamos de PADRES MIDIÁTICOS.
Pelo
amor de Deus, senhores!
Até
quando teremos que assistir a nossa fé ser
transformada em um circo de horrores
simplesmente porque o rostinho bonito e as coxas apertadas dentro de uma calça
jeans atrai multidões.
Será
que os responsáveis pela nossa sagrada Igreja
vão continuar fechando os olhos ao atentado violento que estes
denominados padres estão cometendo a
nossa fé?
Hó, Senhores!!!!! Façam um teste, entrem em uma
roda de bate papo, e comecem a falar de religião e arrisquem citar o nome de um
desses padres, e mudarei o meu discurso, se os senhores, não ouvirem a frese “ NOSSA! COMO
AQUELE PADRE É GOSTOS! ou, NOSSA! OLHA
AS COXAS DAQUELE PADRE! MEU
DEUS QUE BOCA DELICIOSA!
Por favor!
Senhores que lideram nossa Igreja. Inspirem-se, na simples e gloriosa entrada de Jesus em Jericó, montado no lombo de um Jumento, enquanto os poderosos esperavam um Rei coberto de ouro conduzindo imponentemente um cavalo de raça. Façam valer o lado simples de Cristo, na busca da fé real e do amor ao próximo.
Essa ideia de rebanhar multidões a qualquer
custo, não importando os meios, confunde as Escrituras, com as imposições do momento. Essa massa conquistada
por esses senhores que nem deveriam ser chamados de pastores é
passageira, e tornou-se evidente que estes mesmos fiéis vão atrás
do próximo líder espiritual sex simbol que a mídia construir. É óbvio
que estes senhores não tem culpa de seus atributos artísticos. Mas contribuem para manipular a
fé de um povo com seu sensacionalismo barato.
É óbvio que eles não tem culpa de
serem corrompidos por uma mídia macabra
e enlouquecida por audiência. Mas os senhores lideres de nossa Igreja carregam
sobre os ombros a culpa de permitir
tamanha atrocidade.
Se
o teste proposto aqui, ainda não convencer tente apenas imaginar uma linda
mulher ajoelhada tentando se confessar em um confessionário, tentando se
concentrar em Jesus, enquanto o padre sex simbol do outro lado com sua voz de
veludo a ensina a rezar o credo!
Tentem! E verão que não combina.
Tentem! E verão que fé e sensualidade não faz parte
daquele catecismo a nós deixado por Jesus e ensinado por cada um de vocês.
domingo, 22 de julho de 2018
O OURO DE AFRODITE
Aos pés de Afrodite, um castelo.
Em seus cofres, o ouro.
A seus pés, homens e vidas.
Vidas plebeias, vidas compradas.
Ao seu redor, o poder.
O poder social, o poder do impor.
Em suas mãos, a decisão.
A decisão de rumos, de sonhos, de vidas.
Vidas ceifadas, vidas interrompidas.
Por luxo.
Por capricho.
Por medo.
Medo da perda, da perda do ouro.
Medo da vaziez, da vaziez do cofre.
Sem cofre, não há poder, não há sorriso.
Não há olhar.
Não há cheiro.
Não há gosto.
Nem abraço.
Não haverá marcas, nem no corpo, nem na alma.
Sem poder, não haverá saudade.
Não haverá abraços.
Sim! Não haverá abraços.
Mas nunca teve!
Mas teve ouro, ouro no cofre!
E ouro compra!
Compra vidas.
Compra amores.
Compra abraços...
quarta-feira, 18 de julho de 2018
PAPAI, ME COMPRA UM CURUMIM
Não tinha sido um dos melhores dias, as bolsas viviam um inferno astral assustador, nem mesmo o anuncio da Presidência Americana sobre um novo plano econômico acalmou os nervos.
Era sexta-feira, minha esposa havia pedido para que eu pegasse meu filho no colégio, pois ela também estava atrasada devido a complicações no trabalho, e como é de costume acabei atrasando, pois achei que dava tempo para fechar algumas planilhas antes das dezoito horas.
Saí do escritório na correria. Na correria modo de falar, pois ultimamente o trânsito de Londrina não tem permitido tal regalia.
Já no colégio onde meu filho estuda, pude observar que apenas ele ainda encontrava-se por lá, a imagem calma e serena da freira que o tomava conta, me isentou da sensação de pai irresponsável.
Nem tive a oportunidade de dar-lhe um beijo, pois a cria entrou pela porta de trás e foi logo se acomodando. Se ele me disse algo, não me lembro, apenas repeti a mecânica pergunta: “tudo bem filhão?”.
O menino todo feliz por me ver, ainda tentou algum diálogo, mas logo notou que eu não estava para conversa, e foi logo se calando, em seu mundo de solidão, iniciando a suas brincadeiras com seus brinquedos que estrategicamente eu deixava no banco de trás.
Meu rádio como sempre sintonizava a Voz do Brasil, era necessário saber como reagiria o governo brasileiro diante à invasão de Trípoli e a queda do Primeiro Ministro do Japão.
___ Que trânsito horrível! Que saudade da época em que por estas ruas apenas os carros mais lentos e as carroças iam e voltavam. "ainda resmunguei"...
Minha indignação soava na contramão de minhas atitudes, pois este era o meu segundo carro novo em menos de seis meses, eu tinha agora um importado composto do que há de mais moderno em todo o mundo. Lá atrás, meu filho se divertia com seus brinquedos, mas se preferisse, tinha acesso a internet e a vídeos diretos dos Estúdios Disney.
Talvez isso me tranquilizasse sobre a falta de atenção que eu lhe proporcionava.
O relógio já marcava oito horas, a Voz do Brasil já havia terminado, eu passava pela frente da Prefeitura Municipal. Passava não! Estava parado. Pois o trânsito era de uma lentidão descomunal.
Desculpa! Talvez você não seja de Londrina, então vou te explicar.
Quando você sai do centro em direção à zona sul da cidade, as duas melhores opções podem ser, ir pela via expressa, ou seguir pela Avenida Duque de Caxias, última esta a qual eu me encontrava. Quase em seu final para acessar outra avenida de nome Inglaterra. Seguindo este caminho, você vai passa na frente da Prefeitura, e um pouquinho mais a frente um semáforo que não muito diferente do resto da cidade estava inerte.
A lentidão era tanta, que eu dirigia com a mão direita no volante, a outra forrando a cabeça que eu encostava contra o vidro, quase cochilando.
Mais a frente, observei que havia uma blitz, destas em que o guarda ignora pneus carecas, falta de freios e capacete aberto, mas indiscutivelmente você será multado se o seu IPVA estiver vencido.
Eu quase dormia diante tanta lentidão, quando fui surpreendido pelo meu filho que eu já havia esquecido no banco traseiro.
___ Papai, me compra um curumim?
___ Compro, filho! Respondi mecanicamente como todas as outras vezes.
Não demorou muito e novamente veio a pergunta:
___ Papai, me compra um curumim? Comecei a esbravejar, tipo; já disse que compro, agora fica quietinho vai! Peraí! Pensei! Como assim? Me compra um curumim?
Ao olhar pelo retrovisor a surpresa. Meu filho com as duas mãozinhas colocada no vidro já embaçado com sua respiração, olhava atentamente para o lado de fora. Abaixei um pouquinho o vidro e entendi o porquê de seu pedido.
Logo ali sentadinhos na calçada três curumins olhavam atentamente aquela muvuca que acontecia com o trânsito.
Dois maiorzinhos, cuidavam do recém nascido que brincava pela calçada. Enquanto seus pais Kaigangs aproveitavam da lentidão do trânsito para oferece seus cestos aos motoristas.
A indignação interna e a sensação de culpa, silenciou por instante a barulheira das buzinas provocadas pelo trânsito. Aqueles que meu filho chamava de curumins, eram vistos por mim como apenas mais um conjunto de crianças abandonadas, como é comum observarmos pelas calcadas do país. Por quantas vezes havia passado por ali e ignorado a presença daquela gente. Jogados a própria sorte à margem de um riacho calçado por concreto, escoando a poluição da cidade, vivendo em barracas de lona preta. Seus pais, perdidos entre o ser ou não ser indígena. Nos traços a herança hereditária de uma nação forte que aos poucos foram empurradas aos becos e às condições sub-humanas. Pelo corpo distribuído as vestias com as etiquetas famosas doadas por quem acha que uma calça ou um boné pode cobrir a vergonha que nós criamos desde que os presenteamos com um espelho.
E pela primeira vez, sou tocado por uma destas flechas. Não só pelas condições que nós ditos civilizados os empunhemos, mas pela inocente flecha do pedido de meu filho. Aquele a quem pago um dos mais caros colégios da cidade, onde creio eu que terá uma boa formação, acaba de colocar o dedo sobre a minha aberta e ardente ferida, acaba de apontar na prateleira de minha arrogância o produto que eu e minha sociedade criamos.
___ Porque você quer um curumim, meu filho?
___ Horas papai! Quando o senhor me deu o Rex, o senhor disse que era porque ele estava abandonado. Que ele precisava de um lar. Olha os curumins, eles também precisam de uma lar. Não é?
Um nó me tomou a garganta, quase não consegui responder.
___ Mas filho! Curumins não são iguais ao Rex, eles são pessoas iguais a você, já tem família, tem pai e mãe são apenas mais livres do que nós.
___ Não parece papai! Se tivessem alguém, não estariam ali há essa hora na calçada. E o senhor deve lembrar, o Rex também estava na calçada, abandonado igual a eles.
Meu DEUS! Oque dizer a esta criança agora, se passei a vida inteira sem ensinar-lhe nada sobre a vida?
___ E tem mais papai! Um curumim, pode morar comigo no quarto, o Rex a mamãe não deixa. Posso dar a eles aqueles meus brinquedos, e a noite eles podem me ensinar como se chama cada estrela do céu. Compra pai! Vai! Me compra um curumim!
sábado, 14 de julho de 2018
CAMINHOS REAIS
O portão de Não tinha sido um dos melhores dias, as bolsas viviam um inferno
astral assustador, nem mesmo o anuncio da Presidência Americana sobre um novo
plano econômico acalmou os nervos.
Saí do escritório na correria! Na correria modo de falar, pois ultimamente o transito de Londrina não tem permitido tal regalia.
Já no colégio onde meu filho estuda, pude observar que apenas ele ainda encontrava-se por lá, a imagem calma e serena da freira que o tomava conta me isentou da sensação de pai irresponsável.
Nem tive a oportunidade de dar-lhe um beijo, pois a cria entrou pela porta de traz e se acomodou no banco traseiro. Se ele me disse algo, não me lembro, apenas repeti a mecânica pergunta: “tudo bem filhão?”.
O menino todo feliz por me ver ainda tentou algum diálogo, mas logo notou que eu não estava pra papo, foi se acomodando, e logo iniciou a brincar com seus brinquedos que estrategicamente eu deixava no banco de traz.
Meu rádio como sempre sintonizava a Voz do Brasil, era necessário saber como reagiria o governo brasileiro diante à invasão de Trípoli e a queda do Primeiro Ministro do Japão.
___ Que transito horrível! Que saudade da época em que por estas ruas apenas os carros mais lentos e as carroças iam e voltavam. ainda resmunguei...
Minha indignação soava na contramão de minhas atitudes, pois este era o meu segundo carro novo em menos de seis meses, eu tinha agora um importado composto do que há de mais moderno em todo o mundo. Lá atrás, meu filho se divertia com seus brinquedos, mas se preferisse, tinha acesso a internet e a vídeos diretos dos Estúdios Disney.
Talvez isso me tranquilizasse sobre a falta de atenção que eu lhe proporcianava.
O relógio já marcava oito horas, a Voz do Brasil já havia terminado, eu passava pela frente da Prefeitura Municipal. Passava não! Estava parado. Pois o transito era de uma lentidão descomunal.
Desculpa! Talvez você não seja de Londrina, então vou te explicar.
Quando você sai do centro em direção ao zona sul da cidade, as duas melhores opções é ir pela via expressa, ou pegar a Avenida Duque de Caxias, última esta a qual eu me encontrava. Quase em seu final para acessar uma outra avenida de nome Inglaterra, você vai passa na frente da Prefeitura, logo a frente um semáforo que não muito diferente do resto da cidade estava inerte.
A lentidão era tanta, que eu dirigia com a mão direita no volante, a outra forrando a cabeça que eu encostava contra o vidro, quase cochilando.
Lá na frente observei que havia uma blitz, desta em que o guarda faz vista grossa para pneus careca, falta de freio e capacete aberto, mas indiscutivelmente você vai ser multado se o seu IPVA estiver vencido.
Eu quase dormia diante tanta lentidão, quando fui surpreendido pelo meu filho que eu já havia esquecido no banco traseiro.
___ Papai, me compra um curumim!
___ Compro, filho! Respondi mecanicamente como todas as outras vezes.
Não demorou muito e novamente veio a pergunta:
___ Papai, me compra um curumim. Comecei a esbravejar, tipo; já disse que compro, agora fica quietinho vai! Perai! Pensei! Como assim? Me compra um curumim?
Ao olhar pelo retrovisor a surpresa. Meu filho com as duas mãozinhas colocada no vidro já embaçado com sua respiração, olhava atentamente para o lado de fora. Abaixei um pouquinho o vidro e entendi o porquê de seu pedido.
Logo ali sentadinhos na calçada três curumins olhavam atentamente Àquela muvuca que acontecia com o transito.
Dois maiorzinhos, cuidavam do recém nascido que brincava pela calçada. Enquanto seus pais Kaigangs aproveitavam da lentidão do transito para oferece seus cestos aos motoristas.
A indignação interna e a sensação de culpa, silenciou por instante a barulheira das buzinas provocadas pelo transito. Aqueles que meu filho chamava de curumins, eram vistos por mim como meros indiozinhos. Por quantas vezes havia passado por ali e ignorado a presença daquela gente. Jogados a própria sorte à margem de um riacho calçado por concreto, escoando a poluição da cidade, vivendo em barracas de lona preta. Seus pais, perdidos entre o ser ou não ser indígena. Nos traços a herança hereditária de uma nação forte que aos poucos foram empurradas aos becos e às condições sub-humanas. Pelo corpo distribuído as vestias com as etiquetas famosas doadas por quem acha que uma calça ou um boné pode cobrir a vergonha que nós criamos desde que os presenteamos com um espelho.
___ Porque você quer um curumim, meu filho?
Meu DEUS! Oque dizer a esta criança agora, se passei a vida inteira sem ensinar-lhe nada sobre a vida?
___ E tem mais papai! Um curumim, pode morar comigo no quarto, o Rex a mamãe
não deixa. Posso dar a eles aqueles meus brinquedos, e a noite eles podem me
ensinar como se chama cada estrela do céu. Compra pai! Vai! Me compra um
curumim!madeira, que se mantinha em pé, grassas a uma borracha preta, dessas de câmara de ar de caminhão, arrastou-se pelo chão batido, varrido caprichosamente com a vassoura de guanxuma. O ringido da madeira velha e ressecada pelo tempo, denunciava a chegada de alguém. Pela fresta da janela, pude observar que era a comadre Elza, entrando esbaforida, com seus cabelos já esbranquiçados pelo tempo e castigados pelo sol.
Comadre Elza, era o simbolo vivo da simplicidade. Pessoa humana acima de qualquer suspeita e portadora de carisma incontestável.
Abri a pesada porta do casebre, depois de destravar as quatro imponentes tramelas. E lá estava a querida Elzinha. Ainda esbaforida com algo na mão que não pude identificar. E mesmo antes que eu a perguntasse o motivo de tanta correria ela foi logo dizendo:
Era sexta-feira, minha esposa havia pedido para que eu pegasse meu
filho no colégio, pois ela também estava atrasada devido a complicações no
trabalho, e como é de costume acabei atrasando, pois achei que dava tempo para
fechar algumas planilhas antes das dezoito horas.
Saí do escritório na correria! Na correria modo de falar, pois ultimamente o transito de Londrina não tem permitido tal regalia.
Já no colégio onde meu filho estuda, pude observar que apenas ele ainda encontrava-se por lá, a imagem calma e serena da freira que o tomava conta me isentou da sensação de pai irresponsável.
Nem tive a oportunidade de dar-lhe um beijo, pois a cria entrou pela porta de traz e se acomodou no banco traseiro. Se ele me disse algo, não me lembro, apenas repeti a mecânica pergunta: “tudo bem filhão?”.
O menino todo feliz por me ver ainda tentou algum diálogo, mas logo notou que eu não estava pra papo, foi se acomodando, e logo iniciou a brincar com seus brinquedos que estrategicamente eu deixava no banco de traz.
Meu rádio como sempre sintonizava a Voz do Brasil, era necessário saber como reagiria o governo brasileiro diante à invasão de Trípoli e a queda do Primeiro Ministro do Japão.
___ Que transito horrível! Que saudade da época em que por estas ruas apenas os carros mais lentos e as carroças iam e voltavam. ainda resmunguei...
Minha indignação soava na contramão de minhas atitudes, pois este era o meu segundo carro novo em menos de seis meses, eu tinha agora um importado composto do que há de mais moderno em todo o mundo. Lá atrás, meu filho se divertia com seus brinquedos, mas se preferisse, tinha acesso a internet e a vídeos diretos dos Estúdios Disney.
Talvez isso me tranquilizasse sobre a falta de atenção que eu lhe proporcianava.
O relógio já marcava oito horas, a Voz do Brasil já havia terminado, eu passava pela frente da Prefeitura Municipal. Passava não! Estava parado. Pois o transito era de uma lentidão descomunal.
Desculpa! Talvez você não seja de Londrina, então vou te explicar.
Quando você sai do centro em direção ao zona sul da cidade, as duas melhores opções é ir pela via expressa, ou pegar a Avenida Duque de Caxias, última esta a qual eu me encontrava. Quase em seu final para acessar uma outra avenida de nome Inglaterra, você vai passa na frente da Prefeitura, logo a frente um semáforo que não muito diferente do resto da cidade estava inerte.
A lentidão era tanta, que eu dirigia com a mão direita no volante, a outra forrando a cabeça que eu encostava contra o vidro, quase cochilando.
Lá na frente observei que havia uma blitz, desta em que o guarda faz vista grossa para pneus careca, falta de freio e capacete aberto, mas indiscutivelmente você vai ser multado se o seu IPVA estiver vencido.
Eu quase dormia diante tanta lentidão, quando fui surpreendido pelo meu filho que eu já havia esquecido no banco traseiro.
___ Papai, me compra um curumim!
___ Compro, filho! Respondi mecanicamente como todas as outras vezes.
Não demorou muito e novamente veio a pergunta:
___ Papai, me compra um curumim. Comecei a esbravejar, tipo; já disse que compro, agora fica quietinho vai! Perai! Pensei! Como assim? Me compra um curumim?
Ao olhar pelo retrovisor a surpresa. Meu filho com as duas mãozinhas colocada no vidro já embaçado com sua respiração, olhava atentamente para o lado de fora. Abaixei um pouquinho o vidro e entendi o porquê de seu pedido.
Logo ali sentadinhos na calçada três curumins olhavam atentamente Àquela muvuca que acontecia com o transito.
Dois maiorzinhos, cuidavam do recém nascido que brincava pela calçada. Enquanto seus pais Kaigangs aproveitavam da lentidão do transito para oferece seus cestos aos motoristas.
A indignação interna e a sensação de culpa, silenciou por instante a barulheira das buzinas provocadas pelo transito. Aqueles que meu filho chamava de curumins, eram vistos por mim como meros indiozinhos. Por quantas vezes havia passado por ali e ignorado a presença daquela gente. Jogados a própria sorte à margem de um riacho calçado por concreto, escoando a poluição da cidade, vivendo em barracas de lona preta. Seus pais, perdidos entre o ser ou não ser indígena. Nos traços a herança hereditária de uma nação forte que aos poucos foram empurradas aos becos e às condições sub-humanas. Pelo corpo distribuído as vestias com as etiquetas famosas doadas por quem acha que uma calça ou um boné pode cobrir a vergonha que nós criamos desde que os presenteamos com um espelho.
E pela primeira vez, sou tocado por uma
destas flechas. Não só pelas condições que nós ditos civilizados os empunhemos,
mas pela inocente flecha do pedido de meu filho. Aquele a quem pago um dos mais
caros colégios da cidade, onde creio eu que terá uma boa formação, acaba de
colocar o dedo sobre a minha aberta e ardente ferida, acaba de apontar na
prateleira de minha arrogância o produto que eu e minha sociedade criamos.
___ Porque você quer um curumim, meu filho?
___ Horas papai! Quando o senhor me deu o Rex, o senhor disse que
era porque ele estava abandonado. Que ele precisava de um lar. Olha os
curumins, eles também precisam de uma lar. Não é?
Um nó me tomou a garganta, quase não conseguiu
responder.
___ Mas filho! Curumins não são iguais ao Rex, eles são pessoas, já tem família, tem pai e mãe igual a você.
___ Mas filho! Curumins não são iguais ao Rex, eles são pessoas, já tem família, tem pai e mãe igual a você.
___ Não parece papai, se tivessem alguém, não estariam ali há essa
hora na calçada. E o senhor deve lembrar o Rex também estava na calçada,
abandonado igual a eles.
Meu DEUS! Oque dizer a esta criança agora, se passei a vida inteira sem ensinar-lhe nada sobre a vida?
___Cê viu cumadi Julia? O casamento da Princesa?
___Que???... tentei perguntar.
___Nossa! Cumadi! Que coisa mais, bunita, tinha gente que não acabava mais. Um montão de carruagens iguais as dos filmes. Um montão de policiais com todo tipo de roupas.
Mas! A mais bunita mesmo, eram aquelas vermelhas que os homim tem um trenzão na cabeça parecendo um cupim preto.
___ Doque a senhora ??? ......tentei inutilmente mais uma vez interromper. Mas sem sucesso.
A comadre Elza parecia anestesiada pela cerimonia de casamento da plebeia Meghan Markle com o Príncipe Harry na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, Windsor, Inglaterra.
___ Cumadi de Deus! E o vestido da noiva!!! Que coisa mais danado de bunito! E a pele? Uma pele qinem de ceda. Um zóião que só as princesa tem. É que a sinhora num viu o chapel! Coisa de sonho.
Até o Uilia Boni falou que foi o acontecimento du ano.
A sinhora tinha que vê cumadi!!!
Neste exato momento, em que a comadre parou para respirar, eu arrisquei um diálogo:
___ Eu nem tava sabendo desse casamento Comadre! A labuta hoje foi das grandes. Mas que bom que a senhora gostou.
E noque posso ajudar a comadre?
___ Haaa! Num é nada não! Eu só queria saber se a cumadi, tem uma ramona, pra eu remendar minha chinela???
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