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domingo, 22 de julho de 2018

O OURO DE AFRODITE









Aos pés de Afrodite, um castelo.
Em seus cofres, o ouro.
A seus pés, homens e vidas.
Vidas plebeias, vidas compradas.

Ao seu redor, o poder.
O poder social, o poder do impor.
Em suas mãos, a decisão.
A decisão de rumos, de sonhos, de vidas.

Vidas ceifadas, vidas interrompidas.
Por  luxo.
Por capricho.
Por medo.

Medo da perda, da perda do ouro.
Medo da vaziez, da vaziez do cofre.
Sem cofre, não há poder, não há sorriso.
Não há olhar.

Não há cheiro.
Não há gosto.
Nem abraço.
Não haverá marcas,  nem no corpo, nem na alma.
Sem poder, não haverá saudade.

Não haverá abraços.

Sim! Não haverá abraços.

Mas nunca teve!
Mas teve ouro, ouro no cofre!

E ouro compra!

Compra vidas.
Compra amores.


Compra abraços...





quarta-feira, 18 de julho de 2018

PAPAI, ME COMPRA UM CURUMIM

    


      Não tinha sido um dos melhores dias, as bolsas viviam um inferno astral assustador, nem mesmo o anuncio da Presidência Americana sobre um novo plano econômico acalmou os nervos. 
      Era sexta-feira, minha esposa havia pedido para que eu pegasse meu filho no colégio, pois ela também estava atrasada devido a complicações no trabalho, e como é de costume acabei atrasando, pois achei que dava tempo para fechar algumas planilhas antes das dezoito horas. 
    Saí do escritório na correria. Na correria modo de falar, pois ultimamente o trânsito de Londrina não tem permitido tal regalia. 
    Já no colégio onde meu filho estuda, pude observar que apenas ele ainda encontrava-se por lá, a imagem calma e serena da freira que o tomava conta, me isentou da sensação de pai irresponsável. 
    Nem tive a oportunidade de dar-lhe um beijo, pois a cria entrou pela porta de trás e foi logo se acomodando. Se ele me disse algo, não me lembro, apenas repeti a mecânica pergunta: “tudo bem filhão?”. 
   O menino todo feliz por me ver, ainda tentou algum diálogo, mas logo notou que eu não estava para conversa, e foi logo se calando, em seu mundo de solidão, iniciando a suas brincadeiras com seus brinquedos que estrategicamente eu deixava no banco de trás. 
     Meu rádio como sempre sintonizava a Voz do Brasil, era necessário saber como reagiria o governo brasileiro diante à invasão de Trípoli e a queda do Primeiro Ministro do Japão. 

___ Que trânsito horrível! Que saudade da época em que por estas ruas apenas os carros mais lentos e as carroças iam e voltavam. "ainda resmunguei"... 
    Minha indignação soava na contramão de minhas atitudes, pois este era o meu segundo carro novo em menos de seis meses, eu tinha agora um importado composto do que há de mais moderno em todo o mundo. Lá atrás, meu filho se divertia com seus brinquedos, mas se preferisse, tinha acesso a internet e a vídeos diretos dos Estúdios Disney.
Talvez isso me tranquilizasse sobre a falta de atenção que eu lhe proporcionava.
O relógio já marcava oito horas, a Voz do Brasil já havia terminado, eu passava pela frente da Prefeitura Municipal. Passava não! Estava parado. Pois o trânsito era de uma lentidão descomunal. 

   Desculpa! Talvez você não seja de Londrina, então vou te explicar. 
  Quando você sai do centro em direção à zona sul da cidade, as duas melhores opções podem ser, ir pela via expressa, ou seguir pela Avenida Duque de Caxias, última esta a qual eu me encontrava. Quase em seu final para acessar outra avenida de nome Inglaterra. Seguindo este caminho, você vai passa na frente da Prefeitura, e um pouquinho mais a frente um semáforo que não muito diferente do resto da cidade estava inerte. 
   A lentidão era tanta, que eu dirigia com a mão direita no volante, a outra forrando a cabeça que eu encostava contra o vidro, quase cochilando. 
    Mais a frente, observei que havia uma blitz, destas em que o guarda ignora pneus carecas, falta de freios e capacete aberto, mas indiscutivelmente você será multado se o seu IPVA estiver vencido. 
  Eu quase dormia diante tanta lentidão, quando fui surpreendido pelo meu filho que eu já havia esquecido no banco traseiro. 

___ Papai, me compra um curumim? 
___ Compro, filho! Respondi mecanicamente como todas as outras vezes. 

      Não demorou muito e novamente veio a pergunta: 

___ Papai, me compra um curumim? Comecei a esbravejar, tipo; já disse que compro, agora fica quietinho vai! Peraí! Pensei! Como assim? Me compra um curumim? 
     Ao olhar pelo retrovisor a surpresa. Meu filho com as duas mãozinhas colocada no vidro já embaçado com sua respiração, olhava atentamente para o lado de fora. Abaixei um pouquinho o vidro e entendi o porquê de seu pedido. 
    Logo ali sentadinhos na calçada três curumins olhavam atentamente aquela muvuca que acontecia com o trânsito. 
  Dois maiorzinhos, cuidavam do recém nascido que brincava pela calçada. Enquanto seus pais Kaigangs aproveitavam da lentidão do trânsito para oferece seus cestos aos motoristas. 
    A indignação interna e a sensação de culpa, silenciou por instante a barulheira das buzinas provocadas pelo trânsito. Aqueles que meu filho chamava de curumins, eram vistos por mim como apenas mais um conjunto de crianças abandonadas, como é comum observarmos pelas calcadas do país. Por quantas vezes havia passado por ali e ignorado a presença daquela gente. Jogados a própria sorte à margem de um riacho calçado por concreto, escoando a poluição da cidade, vivendo em barracas de lona preta. Seus pais, perdidos entre o ser ou não ser indígena. Nos traços a herança hereditária de uma nação forte que aos poucos foram empurradas aos becos e às condições sub-humanas. Pelo corpo distribuído as vestias com as etiquetas famosas doadas por quem acha que uma calça ou um boné pode cobrir a vergonha que nós criamos desde que os presenteamos com um espelho. 

     E pela primeira vez, sou tocado por uma destas flechas.      Não só pelas condições que nós ditos civilizados os empunhemos, mas pela inocente flecha do pedido de meu filho. Aquele a quem pago um dos mais caros colégios da cidade, onde creio eu que terá uma boa formação, acaba de colocar o dedo sobre a minha aberta e ardente ferida, acaba de apontar na prateleira de minha arrogância o produto que eu e minha sociedade criamos. 

___ Porque você quer um curumim, meu filho? 

___ Horas papai! Quando o senhor me deu o Rex, o senhor disse que era porque ele estava abandonado. Que ele precisava de um lar. Olha os curumins, eles também precisam de uma lar. Não é? 

  Um nó me tomou a garganta, quase não consegui responder.
___ Mas filho! Curumins não são iguais ao Rex, eles são pessoas iguais a você, já tem família, tem pai e mãe são apenas mais livres do que nós. 

___ Não parece papai! Se tivessem alguém, não estariam ali há essa hora na calçada. E o senhor deve lembrar, o Rex também estava na calçada, abandonado igual a eles. 
      Meu DEUS! Oque dizer a esta criança agora, se passei a vida inteira sem ensinar-lhe nada sobre a vida? 


___ E tem mais papai! Um curumim, pode morar comigo no quarto, o Rex a mamãe não deixa. Posso dar a eles aqueles meus brinquedos, e a noite eles podem me ensinar como se chama cada estrela do céu. Compra pai! Vai! Me compra um curumim! 

sábado, 14 de julho de 2018

CAMINHOS REAIS

   O portão de Não tinha sido um dos melhores dias, as bolsas viviam um inferno astral assustador, nem mesmo o anuncio da Presidência Americana sobre um novo plano econômico acalmou os nervos.
Era sexta-feira, minha esposa havia pedido para que eu pegasse meu filho no colégio, pois ela também estava atrasada devido a complicações no trabalho, e como é de costume acabei atrasando, pois achei que dava tempo para fechar algumas planilhas antes das dezoito horas. 

Saí do escritório na correria! Na correria modo de falar, pois ultimamente o transito de Londrina não tem permitido tal regalia.

Já no colégio onde meu filho estuda, pude observar que apenas ele ainda encontrava-se por lá, a imagem calma e serena da freira que o tomava conta me isentou da sensação de pai irresponsável. 

Nem tive a oportunidade de dar-lhe um beijo, pois a cria entrou pela porta de traz e se acomodou no banco traseiro. Se ele me disse algo, não me lembro, apenas repeti a mecânica pergunta: “tudo bem filhão?”.

O menino todo feliz por me ver ainda tentou algum diálogo, mas logo notou que eu não estava pra papo, foi se acomodando, e logo iniciou a brincar com seus brinquedos que estrategicamente eu deixava no banco de traz.

Meu rádio como sempre sintonizava a Voz do Brasil, era necessário saber como reagiria o governo brasileiro diante à invasão de Trípoli e a queda do Primeiro Ministro do Japão.

___ Que transito horrível! Que saudade da época em que por estas ruas apenas os carros mais lentos e as carroças iam e voltavam. ainda resmunguei...

Minha indignação soava na contramão de minhas atitudes, pois este era o meu segundo carro novo em menos de seis meses, eu tinha agora um importado composto do que há de mais moderno em todo o mundo. Lá atrás, meu filho se divertia com seus brinquedos, mas se preferisse, tinha acesso a internet e a vídeos diretos dos Estúdios Disney.
Talvez isso me tranquilizasse sobre a falta de atenção que eu lhe proporcianava.
O relógio já marcava oito horas, a Voz do Brasil já havia terminado, eu passava pela frente da Prefeitura Municipal. Passava não! Estava parado. Pois o transito era de uma lentidão descomunal. 

Desculpa! Talvez você não seja de Londrina, então vou te explicar.

Quando você sai do centro em direção ao zona sul da cidade, as duas melhores opções é ir pela via expressa, ou pegar a Avenida Duque de Caxias, última esta a qual eu me encontrava. Quase em seu final para acessar uma outra avenida de nome Inglaterra, você vai passa na frente da Prefeitura, logo a frente um semáforo que não muito diferente do resto da cidade estava inerte. 
A lentidão era tanta, que eu dirigia com a mão direita no volante, a outra forrando a cabeça que eu encostava contra o vidro, quase cochilando.

Lá na frente observei que havia uma blitz, desta em que o guarda faz vista grossa para pneus careca, falta de freio e capacete aberto, mas indiscutivelmente você vai ser multado se o seu IPVA estiver vencido.

Eu quase dormia diante tanta lentidão, quando fui surpreendido pelo meu filho que eu já havia esquecido no banco traseiro.

___ Papai, me compra um curumim!

___ Compro, filho! Respondi mecanicamente como todas as outras vezes.

Não demorou muito e novamente veio a pergunta:

___ Papai, me compra um curumim. Comecei a esbravejar, tipo; já disse que compro, agora fica quietinho vai! Perai! Pensei! Como assim? Me compra um curumim?

Ao olhar pelo retrovisor a surpresa. Meu filho com as duas mãozinhas colocada no vidro já embaçado com sua respiração, olhava atentamente para o lado de fora. Abaixei um pouquinho o vidro e entendi o porquê de seu pedido.

Logo ali sentadinhos na calçada três curumins olhavam atentamente Àquela muvuca que acontecia com o transito. 

Dois maiorzinhos, cuidavam do recém nascido que brincava pela calçada. Enquanto seus pais Kaigangs aproveitavam da lentidão do transito para oferece seus cestos  aos motoristas.

A indignação interna e a sensação de culpa, silenciou por instante a barulheira das buzinas provocadas pelo transito. Aqueles que meu filho chamava de curumins, eram vistos por mim como meros indiozinhos. Por quantas vezes havia passado por ali e ignorado a presença daquela gente. Jogados a própria sorte à margem de um riacho calçado por concreto, escoando a poluição da cidade, vivendo em barracas de lona preta. Seus pais, perdidos entre o ser ou não ser indígena. Nos traços a herança hereditária de uma nação forte que aos poucos foram empurradas aos becos e às condições sub-humanas. Pelo corpo distribuído as vestias com as etiquetas famosas doadas por quem acha que uma calça ou um boné pode cobrir a vergonha que nós criamos desde que os presenteamos com um espelho.
E pela primeira vez, sou tocado por uma destas flechas. Não só pelas condições que nós ditos civilizados os empunhemos, mas pela inocente flecha do pedido de meu filho. Aquele a quem pago um dos mais caros colégios da cidade, onde creio eu que terá uma boa formação, acaba de colocar o dedo sobre a minha aberta e ardente ferida, acaba de apontar na prateleira de minha arrogância o produto que eu e minha sociedade criamos.

___ Porque você quer um curumim, meu filho?
___ Horas papai! Quando o senhor me deu o Rex, o senhor disse que era porque ele estava abandonado. Que ele precisava de um lar. Olha os curumins, eles também precisam de uma lar. Não é?
Um nó me tomou a garganta, quase não conseguiu responder.
___ Mas filho! Curumins não são iguais ao Rex, eles são pessoas, já tem família, tem pai e mãe igual a você.
___ Não parece papai, se tivessem alguém, não estariam ali há essa hora na calçada. E o senhor deve lembrar o Rex também estava na calçada, abandonado igual a eles.

Meu DEUS! Oque dizer a esta criança agora, se passei a vida inteira sem ensinar-lhe nada sobre a vida?

___ E tem mais papai! Um curumim, pode morar comigo no quarto, o Rex a mamãe não deixa. Posso dar a eles aqueles meus brinquedos, e a noite eles podem me ensinar como se chama cada estrela do céu. Compra pai! Vai! Me compra um curumim!madeira, que se mantinha em pé, grassas a uma borracha preta, dessas de câmara de ar de caminhão, arrastou-se pelo chão batido, varrido caprichosamente com a vassoura de guanxuma. O ringido da madeira velha e ressecada pelo tempo, denunciava a chegada de alguém. Pela fresta da janela, pude observar que era a comadre Elza, entrando esbaforida, com seus cabelos já esbranquiçados pelo tempo e castigados pelo sol. Comadre Elza, era o simbolo vivo da simplicidade. Pessoa humana acima de qualquer suspeita e portadora de carisma incontestável. Abri a pesada porta do casebre, depois de destravar as quatro imponentes tramelas. E lá estava a querida Elzinha. Ainda esbaforida com algo na mão que não pude identificar. E mesmo antes que eu a perguntasse o motivo de tanta correria ela foi logo dizendo:
   ___Cê viu cumadi Julia? O casamento da Princesa? 
   ___Que???... tentei perguntar.
   ___Nossa! Cumadi! Que coisa mais, bunita, tinha gente que não acabava mais. Um montão de carruagens iguais as dos filmes. Um montão de policiais com todo tipo de roupas. Mas! A mais bunita mesmo, eram aquelas vermelhas que os homim tem um trenzão na cabeça parecendo um cupim preto. 
  ___ Doque a senhora ??? ......tentei inutilmente mais uma vez interromper.   Mas sem sucesso. A comadre Elza parecia anestesiada pela cerimonia de casamento da plebeia Meghan Markle com o Príncipe Harry na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, Windsor, Inglaterra. 
   ___ Cumadi de Deus! E o vestido da noiva!!! Que coisa mais danado de bunito! E a pele? Uma pele qinem de ceda. Um zóião que só as princesa tem. É que a sinhora num viu o chapel! Coisa de sonho. Até o Uilia Boni falou que foi o acontecimento du ano. A sinhora tinha que vê cumadi!!! 
  Neste exato momento, em que a comadre parou para respirar,  eu arrisquei um diálogo: 
  ___ Eu nem tava sabendo desse casamento Comadre! A labuta hoje foi das grandes. Mas que bom que a senhora gostou. E noque posso ajudar a comadre? 
   ___ Haaa! Num é nada não! Eu só queria saber se a cumadi, tem uma ramona, pra eu remendar minha chinela???
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Londrina, Norte, Brazil
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