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quinta-feira, 31 de maio de 2012

TERRA A VISTA E A LONGO PRAZO

E quando ao continente atracou, em mãos um espelho entregou.
Incandescia a alma como um candeeiro, chamaram-te de amigo, era o encontro do lobo com o cordeiro.
Vieram cedas e cetim, levaram nossa alma, era o principio do fim.
Candeeiro incandescente, chama que ilumina o desatino.
Fizeram de cinzas a vida a gente. Fizeram de cinzas o indio Galdino.

Como pode esta gente, sonhar ser independente, se até a igreja mente. Como pode esta gente, sonhar ser independente se o padre e o pastor dizimam a fé da gente.

Pinta-se o rosto pra guerra.
Nina-se o curumim ao sonho da terra.
Santa Maria mãe de Deus rogai por nós os pelados pecadores.

Como pode esta gente, sonhar ser independente, se até a igreja mente.
Como pode esta gente, ainda sonhar ser independente se o padre e o pastor roubam o dinheiro da gente.

Veja ali na calçada, quase ao seu alcance, e sem as vestias de cetim.
Ainda engatinha buscado um nada, o menino curumim.
A net invadindo as tabas, nas redes um vazio um nada.
Da ditadura dos gatilhos dos cassetetes e dos porões.
À ditadura das canetas dos holofotes, e .com.

sábado, 12 de maio de 2012

A MORTE DO CANTADÔ

Atire a primeira pedra aquele que por mais descolado, moderno ou hitec, que não tenha ouvido falar de Chico Mulato, Cabocla Teresa ou Chico Mineiro. Atire a primeira pedra, aquele que por mais americanizado dos brasileiros que não tenha cantarolado, “ fizemu a urtima viagi”. Por mais evoluídos que possamos ser diante aos avanços tecnológicos globalizados, nossas raízes estão ligadas a uma origem cabocla e puramente caipira. Felizes os homens que evoluem em sua sabedoria, e mesmo que vivem sob os holofotes do mundo moderno, sabem dosar suas conquistas e suas origens. Assim podemos pontuar mais uma história de vida que se vai. A pouco perdemos um dos mais celebres artistas que este mundo já viu, com a morte de Chico Anysio, e hoje, dia 04 de maio de 2012, naquela curva, não há mais batucada, não há mais São João. Morreu Tinoco, finalizando uma honrosa e digna carreira de um dos mais importantes artistas caboclos deste país. País que teima em não olhar para traz. Pais que ainda insiste em não valorizar sua própria história. É triste ver o bom da cultura expostos em livros ofuscados pelo modismo. É triste ter que garimpar os canais de TV para encontrar programas que ainda valorizam o pouco doque sobrou de nossa boa arte. Vai lá Tinoco. Mostre aos céus o som de sua viola.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ALEM DE UM SOCORRO

Naquela sexta feira, tudo parecia tranquilo, a rodovia era de uma calmaria incomum a uma sexta feira de feriado prolongado. O rádio da Central de Controle pouco nos perturbava com acionamentos, seja para atendimentos comuns como para acidentes. Lembro-me que já passavam das 18:00h quando chegou pela base um senhor em desespero. Lembro-me que ele trajava uma calça na cor verde e uma jaqueta de motociclista na cor vermelha e por ela distribuído várias propagandas destas que patrocinam esportes automobilísticos. Aos gritos aquele senhor pedia ajuda para que socorrêssemos sua família, pois, ele conduzia um veículo de passeio e havia se perdido numa curva logo ali perto nas proximidades de Londrina e Ibiporã no norte do Paraná e sua esposa com sua filha de 4 anos ainda estavam presas nas ferragens. Como de costume o condutor da ambulância a quem chamamos de resgatista informou a central via rádio e na companhia daquele senhor iniciamos o deslocamento para o local do acidente. Durante o percurso o pai aflito fazia suas orações, pedia para que andássemos mais rápido e implorava para que salvássemos a vida de seus entes. Ao abrirmos a curva, lá estava o cenário do acidente. As imagens eram desoladoras, um carro que se quer dava para identificar a marca ou modelo, e ainda sobre o banco dianteiro do passageiro a mãe abraçada com a filha agonizavam a espera do atendimento. Lembro-me ainda que mal a ambulância havia parado eu já me encontrava com o colar cervical nas mãos e abordando as vítimas. Meu parceiro se preocupava com a sinalização enquanto aquele pai nos ajudava com os procedimentos. Logo chegaram outras viaturas de apoio, e com elas a polícia rodoviária. O carro foi cortado, a ferragem retirada de sobre as vítimas, todos os protocolos de resgate cumpridos a risca enquanto aquele senhor continuava ao nosso lado apoiando no socorro. Vias aéreas desobstruídas, cervical devidamente preservada, hemorragias estancadas, neurológico das vítimas mantidas sob controle, veias puncionadas com volume e imobilização padrão. Com o apoio dos terceiros e principalmente daquele pai as duas vítimas estabilizadas foram encaminhadas ao interior da ambulância. Até que gostaríamos de continuar recebendo o apoio daquele pai, mas o protocolo não permite que alm das vítimas e dos socorristas, mais ninguém fique no interior da ambulância. E enquanto eu fechava a porta da viatura e passava aquele senhor aos cuidados de outra ambulância no local, pela fresta da janela ainda pude observa seus olhos que se dividiam por entre a apreensão e o agradecimento. Logo a ambulância iniciou o deslocamento e rumamos ao hospital mais próximo. Em pouco tempo já encontrávamos dentro do Pronto Socorro com mãe e filha sendo atendidas pela equipe médica. Assim terminava mais um dos rotineiros socorros conduzidos por minha equipe. Agora só restava retornar ao local do acidente para verificar se aquele senhor havia sido atendido por outra ambulância e recolher os dados sobre todo o ocorrido para a confecção dos documentos. No local, percorri por todo o cenário perguntando a terceiros sobre aquele senhor. Ainda usava a cor de sua roupa para tentar facilitar a identificação, mas as respostas eram sempre as mesmas. ____ Não! Não vi este senhor por aqui. Fui aos Bombeiros saber sobre o pai que havias nos ajudado e deveria ter sido socorrido por eles. Foi ali que uma das grandes surpresas nos tomou conta. O bombeiro que gentilmente nos atendeu foi claro com a resposta. ___ Foi morte instantânea! Ele não teve chance. No capotamento, o carro caiu sobre ele e o amputou da cintura para baixo. O corpo esta ali coberto com aquela lona preta.
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Londrina, Norte, Brazil
Ler, eis a diferença.