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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MINHAS RAÍZES

UMA CANÇÃO AO PANEMA


De cá de dentro de mim, olho ao longe pra entender a natureza.
Aperta o peito a tristeza de saudades do sertão.
Pelas ruas e esquinas na loucura da cidade onde chora a liberdade prisioneira da ambição.
Larguei o campo, fui aos sonhos de sucesso, ganhei tudo até confesso sou chamado de patrão.

O carro novo, a gravata, a etiqueta tudo lindo mas distante das raízes de peão.
O carro de boi a carroça, a viola abençoada , a sanfona e o violão.
Terra roxa pelas veias sou caboclo meu irmão.

De cá de dentro de mim, olho ao longe pra entender a natureza.
Aperta o peito a tristeza de saudades do sertão.
Pelas ruas e esquinas na loucura da cidade onde chora a liberdade prisioneira da ambição.

Não me fez feliz a riqueza que a vida pode dar, calos nas mãos face suada, poeira na alma acumulada.
Vou por meu pé na estrada, ouvir de novo a seriema, caminhar pela estradinha, vou retornar ao meu Panema.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O CÃO NOSSO DE CADA DIA


Caminha pelas ruas num cambalear sem rumo.
Tropeça pelas latas na busca do saciar.
Finge ser, sem ser.
Vai mesmo sem saber pra onde.
Ouve o roncar vindo de dentro, sente o silencio vindo a alma.
Ainda caminha num cambalear sem rumo.

Na lata não há nada, a fome persiste, a dor entristece.
A solidão desfalece.
Seu amigo, um cão.
Sua posse um saco, no saco um nada.
Um nada de vida, um nada de nada.

Olhe sua face, esculpem-se as rugas.
Sinta suas mãos, suaves são os calos.
Sinta sua dor, dor de saudade.
Dor de família.
Dor de amor.

De repente um carro.
O alerta do amigo.
Voltar não dá.
Avançar não deu.
Ali ficou inerte ainda sem rumo.
Ainda sem rumo.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

TERRA A VISTA E A LONGO PRAZO

E quando ao continente atracou, em mãos um espelho entregou.
Incandescia a alma como um candeeiro, chamaram-te de amigo, era o encontro do lobo com o cordeiro.
Vieram cedas e cetim, levaram nossa alma, era o principio do fim.
Candeeiro incandescente, chama que ilumina o desatino.
Fizeram de cinzas a vida a gente. Fizeram de cinzas o indio Galdino.

Como pode esta gente, sonhar ser independente, se até a igreja mente. Como pode esta gente, sonhar ser independente se o padre e o pastor dizimam a fé da gente.

Pinta-se o rosto pra guerra.
Nina-se o curumim ao sonho da terra.
Santa Maria mãe de Deus rogai por nós os pelados pecadores.

Como pode esta gente, sonhar ser independente, se até a igreja mente.
Como pode esta gente, ainda sonhar ser independente se o padre e o pastor roubam o dinheiro da gente.

Veja ali na calçada, quase ao seu alcance, e sem as vestias de cetim.
Ainda engatinha buscado um nada, o menino curumim.
A net invadindo as tabas, nas redes um vazio um nada.
Da ditadura dos gatilhos dos cassetetes e dos porões.
À ditadura das canetas dos holofotes, e .com.

sábado, 12 de maio de 2012

A MORTE DO CANTADÔ

Atire a primeira pedra aquele que por mais descolado, moderno ou hitec, que não tenha ouvido falar de Chico Mulato, Cabocla Teresa ou Chico Mineiro. Atire a primeira pedra, aquele que por mais americanizado dos brasileiros que não tenha cantarolado, “ fizemu a urtima viagi”. Por mais evoluídos que possamos ser diante aos avanços tecnológicos globalizados, nossas raízes estão ligadas a uma origem cabocla e puramente caipira. Felizes os homens que evoluem em sua sabedoria, e mesmo que vivem sob os holofotes do mundo moderno, sabem dosar suas conquistas e suas origens. Assim podemos pontuar mais uma história de vida que se vai. A pouco perdemos um dos mais celebres artistas que este mundo já viu, com a morte de Chico Anysio, e hoje, dia 04 de maio de 2012, naquela curva, não há mais batucada, não há mais São João. Morreu Tinoco, finalizando uma honrosa e digna carreira de um dos mais importantes artistas caboclos deste país. País que teima em não olhar para traz. Pais que ainda insiste em não valorizar sua própria história. É triste ver o bom da cultura expostos em livros ofuscados pelo modismo. É triste ter que garimpar os canais de TV para encontrar programas que ainda valorizam o pouco doque sobrou de nossa boa arte. Vai lá Tinoco. Mostre aos céus o som de sua viola.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ALEM DE UM SOCORRO

Naquela sexta feira, tudo parecia tranquilo, a rodovia era de uma calmaria incomum a uma sexta feira de feriado prolongado. O rádio da Central de Controle pouco nos perturbava com acionamentos, seja para atendimentos comuns como para acidentes. Lembro-me que já passavam das 18:00h quando chegou pela base um senhor em desespero. Lembro-me que ele trajava uma calça na cor verde e uma jaqueta de motociclista na cor vermelha e por ela distribuído várias propagandas destas que patrocinam esportes automobilísticos. Aos gritos aquele senhor pedia ajuda para que socorrêssemos sua família, pois, ele conduzia um veículo de passeio e havia se perdido numa curva logo ali perto nas proximidades de Londrina e Ibiporã no norte do Paraná e sua esposa com sua filha de 4 anos ainda estavam presas nas ferragens. Como de costume o condutor da ambulância a quem chamamos de resgatista informou a central via rádio e na companhia daquele senhor iniciamos o deslocamento para o local do acidente. Durante o percurso o pai aflito fazia suas orações, pedia para que andássemos mais rápido e implorava para que salvássemos a vida de seus entes. Ao abrirmos a curva, lá estava o cenário do acidente. As imagens eram desoladoras, um carro que se quer dava para identificar a marca ou modelo, e ainda sobre o banco dianteiro do passageiro a mãe abraçada com a filha agonizavam a espera do atendimento. Lembro-me ainda que mal a ambulância havia parado eu já me encontrava com o colar cervical nas mãos e abordando as vítimas. Meu parceiro se preocupava com a sinalização enquanto aquele pai nos ajudava com os procedimentos. Logo chegaram outras viaturas de apoio, e com elas a polícia rodoviária. O carro foi cortado, a ferragem retirada de sobre as vítimas, todos os protocolos de resgate cumpridos a risca enquanto aquele senhor continuava ao nosso lado apoiando no socorro. Vias aéreas desobstruídas, cervical devidamente preservada, hemorragias estancadas, neurológico das vítimas mantidas sob controle, veias puncionadas com volume e imobilização padrão. Com o apoio dos terceiros e principalmente daquele pai as duas vítimas estabilizadas foram encaminhadas ao interior da ambulância. Até que gostaríamos de continuar recebendo o apoio daquele pai, mas o protocolo não permite que alm das vítimas e dos socorristas, mais ninguém fique no interior da ambulância. E enquanto eu fechava a porta da viatura e passava aquele senhor aos cuidados de outra ambulância no local, pela fresta da janela ainda pude observa seus olhos que se dividiam por entre a apreensão e o agradecimento. Logo a ambulância iniciou o deslocamento e rumamos ao hospital mais próximo. Em pouco tempo já encontrávamos dentro do Pronto Socorro com mãe e filha sendo atendidas pela equipe médica. Assim terminava mais um dos rotineiros socorros conduzidos por minha equipe. Agora só restava retornar ao local do acidente para verificar se aquele senhor havia sido atendido por outra ambulância e recolher os dados sobre todo o ocorrido para a confecção dos documentos. No local, percorri por todo o cenário perguntando a terceiros sobre aquele senhor. Ainda usava a cor de sua roupa para tentar facilitar a identificação, mas as respostas eram sempre as mesmas. ____ Não! Não vi este senhor por aqui. Fui aos Bombeiros saber sobre o pai que havias nos ajudado e deveria ter sido socorrido por eles. Foi ali que uma das grandes surpresas nos tomou conta. O bombeiro que gentilmente nos atendeu foi claro com a resposta. ___ Foi morte instantânea! Ele não teve chance. No capotamento, o carro caiu sobre ele e o amputou da cintura para baixo. O corpo esta ali coberto com aquela lona preta.

sexta-feira, 23 de março de 2012

VAI LÁ CHICO.......



Nesta sexta 23 de março de 2012. Saiu a convocação para a seleção que fará um amistoso no céu, e Deus convocou o "Coalhada".

quarta-feira, 14 de março de 2012

DE REPENTE VOCÊ.





Quando o sol se oculta, é porque já cumpriu sua missão de iluminar o dia.
Quando a lua se expõem nua e bela, é porque a noite a espera pra falar de amor.
Quando a brisa toca as pétalas das rosas quebrando o silencio da noite, é porque a suavidade da vida se espalha por entre o brilho do sol, a luz lunar e a sutileza da rosa.
Não teríamos vida sem o calor do sol. Não brilharíamos sem a espontaneidade da lua, e nem sentiríamos o perfume da vida sem o perfume da flor. Mas de nada valeria nossos sentimentos se por entre, calor, luz, brilho e sutilezas, não resplandecesse sorrisos iguais ao seu.
Inveja de ti a lua, pois teu sorriso a ofusca. Copia-te o sol, pois seu brilho e o seu calor o intimidam.
Há! Menina. Nem mesmo a rosa consegue se conter na presença de sua inexplicável beleza.

A LENDA DA CORUJA BRANCA


Quem nunca ouviu falar do misterioso granido rasgado das assustadoras corujas brancas do interior?
Qual vivente caipira que participou do silencio da madrugada roceira que nunca se assustou com os causo e as estórias horripilantes sobre a famosa coruja branca?
Roga a lenda popular roceira que quando um desses pássaros cruzar os céus e quebrar o silencio da madrugada soltando seu rasgado cantar, é porque a morte está por perto. Ainda afirma a lenda que para quebrar este encanto, é necessário iluminá-la com um tição em brasa ardente no ato de seu cantar.
Quanta crendice. Como poderia um pássaro de tão grandiosa beleza portar notícias tão ruins?
Pois é exatamente por esta injusta fama que eu vou contar a vocês: A LENDA DA CORUJA BRANCA.



Uma estradinha de terra vermelha cruzava a imensidão de pés de café sob uma fina e compacta poeira. Pela estradinha uma carroça em alta velocidade parecia querer vencer o tempo e a velocidade.
E não era pra menos, na carroça viajava a velha parteira dona Iria que fazia de sua vida o esforço para trazer ao mundo mais uma criança.
Dona Iria como era conhecida tornou-se a líder espiritual daquela região, viajava por entre os benzimentos e os conselhos. Cuidava para que as crianças viessem ao mundo através de suas mãos. Uma mulher forte, intrigante, misteriosa. A sua fé conduzia os pensamentos das mais diferentes opiniões. Pra alguns, uma bruxa ligada aos feitos sombrios dos rituais e de magias. Pra outros, uma mulher abençoada por Deus.

Iria, não media esforços para ver seu povo bem. Cruzava noites em claro, não comia pra mais de vezes apenas para acalentar um pobre moribundo.

Lembro-me que meados do mês de agosto as tardes eram longas, os cafezais do norte do Paraná reluziam seu verde forte, imponente.
Nas colônias os caboclos se agitavam para um ano farto e feliz. Naquele mês a cegonha tinha sido generosa, pois quatro mulheres que estavam grávidas deveriam dar a luz. Dona Iria já havia preparado todo seu aparato para a grande missão. Na fazenda do Taquaruçu Dona Maria engravidou e dará a luz ao estripulento Inhá, na Fazenda São Vicente, Katarina paria Toim, já na Fazenda Quebra Canoas nasceria o Mauro filho do Léro-léro enquanto no vilarejo do Panema, dona Julia arrebentaria o Jubinha. Mas para Iria tudo se resolveria numa questão de fé, organização e um pouquinho de sorte. A vida caminhava lentamente como tudo naquela região. O rio Engano abastecia as pequenas casas ainda de madeira, o João Preto ainda gargalava sua caninha, o Joaquinzim com seu radim sofria com a fase ruim de seu time “ o Santos”. Tudo parecia na maior normalidade até que entrou pela vila na maior da correria o peão Agildo montado em seu pangaré rumando-se a casa da velha benzedeira. Ainda de sobre seu cavalo e muito afoito foi dizendo:
___ Corre dona Iria, pois o trem ta brabo lá na fazenda. Dona Maria parece que vai dar a luz e estão dizendo que dona Katarina, dona Julia e Bastiana também estão passando mal. Parece dona Iria que as quatro muié vão dar a luz de uma só vez.
___ Não se aperrengue meu filho, há jeito pra tudo. Disse dona Iria com uma calma invejável. Acenou ao seu Zé que já vinha com a carroça arriada. Dona Iria juntou seus apetrechos de parteira jogou tudo dentro de uma mucuta, subiu na carroça e dirigiu-se rumo as fazendas.
Há tempo não chovia na região e naquele dia as pesadas nuvens pareciam programar uma tempestade. O vento já havia chegado fazendo da região um caldeirão de poeira vermelha cobrindo todo o céu. Era tanta poeira que o céu ficou vermelho, um cenário arrepiador.
Mas a velha parteira não se intimidava e cruzando aquela ventania empoeirada chegou a Fazenda Taquaruçu onde dona Maria já iniciava o parto. E foi assim, com sua calma e sua sabedoria popular que dona Iria trouxe ao mundo o forte Inhá. Sem perder tempo montou na carroça de seu Zé e rumou-se a Fazenda Dois Irmãos, onde Katarirna sofria de dores com a chegada do garoto Toim. Enfim a chuva chegou, mas diante a alegria de ver a terra molhada novamente chegou também a preocupação, pois ventava muito, e como se não bastasse com a chuva veio o granizo. E agora, aquela que era uma empoeirada e seca estrada, se tornara em um escorregadio e intransponível mar de lama. Mas para a velha guerreira, só Deus a impediria de ver mais um rebento chegar ao mundo.

A chuva era muito forte, o vento jogava a carroça de um lado paro o outro, mas não demorou muito a Fazenda Quebra Canoas recebia a visita da velha parteira. E foi assim que Mauro veio ao mundo para somar mais um encapetado caipirinha naquelas bandas.

Os sinais de cansaço já incomodavam a mulher, mas ainda havia uma criança para vir ao mundo, e ela não poderia falhar. Aconselhada a esperar a chuva passar, ela não se intimidou dizendo:
___ A natureza não espera, e eu tambem não. Dizendo assim já estava sobre a carroça e chamando pelo velho Zé.
A chuva não dava trégua, o vento aumentava, o granizo caia com pedras lançadas por estilingues. Mas a missão precisava ser cumprida.
O velho burro que puxava a carroça já não resistia mais. E ao passar pela ponte branca do rio Engano o animal escorregou-se na lama da estrada vindo a lançar a carroça contra um barranco. Dona Iria e seu Zé foram jogados fortemente contra a mureta de proteção da ponte. Seu Zé nada sofreu, mas a velha parteira por ter batido com a cabeça, ficara por alguns minutos desacordada e quando voltou a consciência notou um corte profundo na altura do supercílio.
Dona Iria arrancou de dentro da mucuta um lenço, enrolou na cabeça, pegou o velho Zé pelo braço e rumou-se a casa de dona Julia.
Cambaleou, mancou, quase se rastejou, mas em pouco tempo batia a porta da casa da mãe em trabalho de parto.
E não demorou muito se refez, e entre um carinho e outro ao corte do cordão umbilical a velha parteira trouxe ao mundo o moleque Jubinha.
Dona Julia abraçava pela primeira vez a sua cria, enquanto no fundo da sala de piso de assoalho dona Iria fechava os olhos e ali mesmo nos braços de seu companheiro, morria.

Porem! Diante a bondade daquela vivente, os deuses não permitiram que ela simplesmente se fosse como um ser comum. A chuva cessou, nenhuma pedra de granizo mais caiu. O céu tornou-se límpido e de um azul  estonteante.
Foi assim diante deste cenário e ao som do choro do recém nascido que uma luz vinda dos céus entrou pela janela daquela casa, cobriu o corpo já inerte da vela mulher e numa misteriosa metamorfose a parteira foi se transformando numa imponente e linda coruja branca.
E desde este dia, ela vive pelos sertões do Paraná num vôo solitário, cortando o silencio da madrugada e anunciando a chegada de mais um bebe.
Então! Todas as vezes que você ouvir o cantar rasgado da coruja branca, não se assuste, pois ela esta apenas anunciando que naquela região nascerá mais uma criança.

Gilberto Julia
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Londrina, Norte, Brazil
Ler, eis a diferença.